domingo, janeiro 5

Não exijas dos teus o que não és capaz de ser/dar...

Escrevi inúmeras vezes sobre maternidade.

Escrevi inúmeras vezes sobre o papel de mãe (e pai), sobre a responsabilidade que carregamos, sobre a oportunidade que temos de fazer um "bom" papel e sobre a incerteza de o desempenharmos de verdade.

Apesar de tudo ser diferente por aqui, e de questionar-me muitas vezes se ainda faz sentido continuar a falar sobre maternidade, decidi que não quero parar de partilhar aquilo que acredito, e que sempre defendi.

(Apesar de neste momento não ter oportunidade de continuar a exercer o meu papel de mãe como sempre o fiz, por motivos que me ultrapassam e que as leis existentes não conseguem salvaguardar, continuo a acreditar e a defender que a maternidade começa em nós, mães e pais.)

Há dois anos escrevi um post que resolvi partilhar novamente. Só seremos bons pais se estivermos dispostos a cuidar de nós. Os problemas que cada um carrega não fica apenas em si, mas nas crianças que esperam dessa pessoa o seu melhor. Infelizmente, nem todos os pais têm a capacidade (a humilidade, e a audácia,...) para se responsabilizarem por si mesmos.

Enquanto mães (e pais) PRECISAMOS URGENTEMENTE de cuidar de nós, em primeiro lugar, se queremos criar filhos saudáveis. (Bem... o querer criar filhos saudáveis dá conversa para outro post...).

Deixo convosco o que escrevi anteriormente:

Não pode um adulto "doente" esperar criar um filho "saudável", se não estiver disposto a melhorar.

Não pode um adulto que não se conhece criar um filho que se conheça de verdade. A criança terá sempre marcas de que foi criado por alguém desnorteado.

Não pode um adulto desorientado criar um filho orientado. E esperar dele a orientação, como se nascesse com todo esse conhecimento. Como há-de um filho saber o que fazer se não foi o adulto capaz de lhe dizer?

Não pode um adulto desregulado criar um filho que seja capaz de se regular. E exigir que se controle, ao mesmo tempo que perde o seu próprio controlo.

Não pode um adulto que julga os outros pelos seus atos esperar que um filho não se sinta culpado.

Não pode um adulto que se chateia constantemente com o mundo criar um filho que se sinta em paz com esse mesmo mundo.

Não pode um adulto que martiriza um filho, esperar dele o eterno respeito. Como pode se o respeito não era mútuo?

Ninguém ensina ninguém como se educa. Mas até os mais antigos diziam, se não sabes, pergunta!

Ninguém consegue emender os erros do passado, se continuar a viver o presente como se nada se nada tivesse acontecido.

Ninguém consegue acreditar num novo futuro, se continuar a perpetuar os mesmos comportamentos e ao invés de fortalecer relações, construír um muro!


Como pais, adultos, educadores, cuidadores temos uma responsabilidade GIGANTE!

De nada adianta sentar-me e esperar que os meus filhos se orientem sozinhos, se não estiver lá de forma positiva, a mostrar-lhes como se faz.

De nada adianta esperar que me amem porque sou o adulto, se não fui nem sou capaz de ensinar o que é o amor.

De nada adianta dizer "Adoro-te" ao final do dia, se assinalei as horas anteriores com memórias tristes e infelizes.


Ser pai, ser o adulto, ser educador, ou cuidador de um ou mais filhos é exigente. Mas a exigência é nossa, não deles. Nós é que precisamos de suportar as dores e dificuldades, não eles.

E quem não o sabe fazer, vai sempre a tempo de aprender, num momento chamado Hoje. Porque amanhã pode ser tarde demais!


Afinal... Tudo o que acontece na infância não fica na infância... Da mesma forma que as nossas experiências vieram connosco e moldam parte do que somos hoje em dia, as experiências dos nossos filhos também seguirão com eles. Cabe-nos a nós tornar essas experiências mais ou menos pesadas...



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