Sempre tarde, nem sempre a horas...
Estava a terminar de arrumar a cozinha quando, de repente, reparei nas horas. Já passa das 11 da noite, e ainda não tive tempo para parar. Felizmente, nos dias de correm, esta nem sempre é a norma. Agora consigo mais tempo para me sentar do que no último capítulo da minha vida. Mas durante 15 anos esta foi a minha realidade a grande maioria dos dias.
Ter sido mãe pela primeira vez aos 22 anos foi um privilégio, aos 30 uma benção. Tive os meus filhos no momento ideal para mim. No entanto, nunca fui apenas eu. Tenho sido, de vez em quando, agora.
Durante 15 anos vivi todos os dias para os outros. Trabalhei, cuidei de uma casa, dos outros, dei tudo (e um bocadinho mais) de mim. E nem sempre o tempo chegou para cuidar de mim. A inconsistência em tudo o que tentei fazer revela os períodos em que a vida se tornou ainda mais exigente.
Hoje, por diferentes motivos (um deles por ser o início de um novo ano e pela primeira vez em muitos anos sentir que quero recomeçar) perdi-me em tarefas que ficaram por fazer porque preferi priorizar outras coisas: estar com pessoas que são importantes para mim.
Ser mãe jovem é maravilhoso. Nunca me hei-de arrepender. Cresci muito. Cresci como pessoa. Mas profissionalmente, muito ficou por fazer. Os sonhos, planos e objetivos que tinha foram sendo adiados. Os projetos foram sendo guardados... Cresci como mulher. Mas não consegui, nem de perto, chegar onde queria como profissional ou empreendedora. Quem me conhece sabe que tenho um bichinho dentro de mim que não me permite parar. Não sou nem nunca serei a pessoa mais talentosa ou a mais criativa, nem tão pouco a mais inteligente. Mas sou uma apaixonada por diversas oportunidades que a vida nos coloca. E tenho noção de que perdi muitas.
As exigências da vida e outras coisas que para já não quero explorar (mas irei ao longo deste ano falar) foram colocando o meu lado profissional de lado.
Se eu pudesse voltar atrás talvez tivesse que mudar tanta coisa que não seria mais a mesma pessoa. E não seria esse o objetivo, por isso, estou em paz, e aceito que tudo tenha sido como foi.
Aprendi lições que não teria aprendido se tivesse sido diferente.
Ganhei maturidade que não teria ganho se tivesse sido diferente.
Ganhei conhecimento sobre mim mesma e sobre os outros.
Ganhei experiência. Ganhei a oportunidade de ver e acompanhar de perto o nascimento e crescimento de dois seres maravilhosos, os meus filhos.
Ganhei muito, muito mais do que posso relatar.
Mas claro, como tantas outras coisas foram ficando para trás, pelo caminho também me frustei, revoltei, pensei ser o problema por não ser capaz...
Hoje tenho consciência de que ninguém o é, tenho noção de que com tudo o que fiz não seria possível fazer mais. Ninguém o é. Ninguém consegue dar conta de tanto na vida.
Acredito que muitas pessoas desse lado passem pelo mesmo. Acredito que muitos desse lado terminem o dia com o sentimento de que ainda há tanto onde queriam colocar tempo e energia. O dia é longo, mas não suficiente para conseguirmos chegar a todas as áreas.
Não se culpabilizem se assim o for. Não se diminuam. Lembrem-se que talvez já deram demais durante o dia. Lembrem-se que a vida é feita de fases. Que para ganharem muito numa área de vida e poderem estar a 100% nela, outras terão que ficar para trás. Não esquecidas, mas apenas em espera ou a progredirem a um ritmo diferente.
Lembrem-se que talvez estejam a fazer mais do que é suposto. Ou talvez estejam a remar contra a maré. Ou talvez estejam mais sozinhos do que parece. Ou talvez as exigências nesta fase sejam mesmo demais. Não se frustem. Ou melhor, não deixem que a frustração vos faça querer ser diferente, ou desistir. Não desistam. Refaçam objetivos se for mais fácil. Desenhem-nos mais pequenos para que os possam trabalhar de forma mais gradual. No final, o mais importante é o percurso que percorrem do que a data em que irão atingir o objetivo a que se proponhem. Talvez o objetivo mude pelo caminho. Por isso, tentem concentrar-se no aqui e agora. Sabem da história da lebre e da tartaruga? Chega à meta quem não desiste. Mesmo que por vezes precisem de abrandar o ritmo, porque outras exigências se colocam como prioridade, um dia o ritmo há-de acelerar um bocadinho mais...
Desistir nunca é o caminho. Mas cuidar de nós, priorizar o que queremos atingir talvez seja uma parte da solução.
Para este ano, protejam 5 minutos do vosso tempo para cuidarem apenas de vocês e dos vossos objetivos. Nem que durante esses 5 minutos sejam apenas para alimentarem o sonho.
Há um estudo longo que conclui que sonhar é o que nos traz mais felicidade enquanto seres humanos. E, estou em crer que ser feliz é o que todos queremos, não é?
Sou muito grata pelas oportunidades que a vida me tem colocado à disposição. Durante os últimos anos cresci muito enquanto pessoa, mas não tanto enquanto profissional. Hoje sei que tenho muito mais a crescer em ambas as áreas. E aqui, eu sei que combino as duas...
Obrigada por estarem desse lado nesta nova jornada...
Com amor, Lu
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