segunda-feira, maio 13

Quando tu nasceste, eu estava preparada para tudo. Menos para ficar doente.


Quando tu nasceste, eu estava preparada para as várias dificuldades e desafios que um bebé pequeno pode acarretar. Preparei-me para as cólicas, para os sonos trocados, para amamentar, para mudar a rotina, para gerir um novo bebé e o mano ao mesmo tempo. Estava preparada para o fazer sozinha. Estava preparada para as mudanças na minha imagem, para deixar de tomar banho em condições, para deixar de me pentear, de me olhar ao espelho e até para não dar importância aos comentários alheios.
Preparei-me tanto melhor desta vez! Sentia que estava bem preparada, principalmente para o que senti mais dificuldade quando o Gabi nasceu.
Mas, ao mesmo tempo que me foquei na tua chegada, no mano que iria continuar a precisar da mamã, no papá que iria continuar a precisar de uns bocadinhos a sós com a mamã, esqueci-me de mim. Esqueci-me de preparar-me para a eventualidade de uma doença. Esqueci-me de preparar-me para a eventualidade de surgirem imprevistos que me afetassem a mim. Talvez ninguém esteja preparado para ficar doente. Talvez ninguém esteja preparado para ficar sem força, para viver com dores e sentir-se limitado. Na verdade, talvez não haja preparação possível. Mas, talvez se me tivesse lembrado que isso podia acontecer, tudo tivesse sido mais fácil. Sou uma pessoa de planos, que precisa de se “programar”. Apesar de aceitar as incertezas da vida, sejam elas causadas por nós ou não, gosto de manter o mínimo de organização. E desta vez tinha tudo planeado para dar certo. E começou por dar. Os primeiros tempos foram maravilhosos. Tu eras uma bebé tranquila. Eu acreditava que estava a fazer o que era certo, as coisas pareciam que estavam a ser muito mais fáceis desta vez. Tudo estava perfeito. Mas, aquele dia…. Aquele dia em que a dor nas costas apareceu veio mudar tudo. Eu não queria aceitar. Julguei que ficaria bem novamente, que seria passageiro. Mas não foi. A dor persistiu, persistiu e persistiu tanto que quis testar os meus limites. E os meus planos começaram a fracassar… Tivemos que criar o plano b, c, d, e todos os que foram sendo necessários, porque adoecer não estava de todo nos meus planos. Eu não estava preparada para enfrentar um desafio tão grande, principalmente na altura em que sentia mais feliz…
Mas, de nada nos servem os desafios se nada aprendermos com eles. E eu aprendi tanto, mas tanto que é impossível descrever o turbilhão que foi gerir tudo isso. Aprendi tanto sobre mim, sobre os outros, sobre nós. Cresci um bocadinho mais. Tendo ficado mais fraca, tornei-me mais forte. E hoje sei que posso falar sobre tudo isso sem paralisar.

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