Já o repeti aqui várias vezes, o Gabriel
surgiu numa fase muito especial da minha vida. Vivi a gravidez dele durante a
licenciatura em Terapia Ocupacional e, durante o segundo trimestre de gravidez,
estive a estagiar em pediatria.
Isto será sempre uma parte importante da
minha história e, por isso, da história dele também.
Durante o seu desenvolvimento testei e
apliquei muitos dos conhecimentos que adquiri. Comprovei teorias e modelos de
desenvolvimento. Criei atividades para estimulação e procurei os melhores jogos
e brinquedos para ele. Fui chatinha com as pessoas mais próximas, às quais
terei sempre que agradecer, por terem respeitado as minhas decisões e
acreditaram tanto no valor das atividades como eu. E, por isso, desde cedo, o
Gabriel foi colecionando brinquedos muito especiais.
O Gabriel nasceu numa altura de mudança.
Sem grande consciência, sempre acreditei que tudo na vida é passageiro, mas os
primeiros anos de uma criança são fundamentais. O meu estágio de pediatria foi
em multideficiência, e por isso, conheci casos completamente diferentes uns dos
outros. Percebi que o nosso papel é importante desde o nascimento, que a nossa
interação deve começar desde então. À custa disso, quis viver os primeiros anos
do Gabi ao máximo, fiz questão de estar presente em tudo. Paralelamente,
tentava dar conta do resto: do casamento, da profissão, da casa, dos amigos e
de mim. Julguei conseguir cada coisa da forma mais perfeita possível. Até perceber
que a realidade não é bem assim.
Não importa explorar todas as coisas que
me desafiaram desde então, nem tão pouco os dilemas com os quais tive que
lidar. Acho que nada acontece por acaso, mas acredito ainda que nunca devemos
desistir dos nossos sonhos.
Comecei a pesquisar na internet
experiências e opiniões de outras mães. Queria perceber até que ponto eu estaria
a falhar ou não. Eram escassos os relatos e os primeiros que encontrei eram
maioritariamente oriundos do Brasil. Oh povo bom! É incrível a forma como os
brasileiros relatam cada acontecimento. Eles relatam tudo de uma forma tão
pormenorizada que é impossível não viver cada coisa em conjunto com eles. Em
Portugal, não encontrava o mesmo tipo de conteúdo, de partilhas ou de experiências.
À medida que o Gabi crescia, eu acreditava que essa informação faria falta a
mais pessoas como eu. E comecei a querer fazer algo para ajudar outras mães.
Mas, antes de tudo isso, precisei passar por um processo enorme de crescimento
pessoal. Sou muito envergonhada, medricas como tudo. Entro quase em taquicardia
só de pensar que alguém pode ler o que publico. Mesmo que não pareça, este
é um dos obstáculos que sempre quis ultrapassar.
Em 2016, a planear o segundo filho,
sabia que estaria na altura ideal para dar um bocadinho mais de mim, para me
desafiar, para enfrentar os meus maiores medos.
E por isso, este cantinho, para além de
um hobbie, em 2016 ganhou um novo significado. Mas, nem sempre aquele ditado “basta
acreditar” está correto. Em 2017 tive que suspender todos os planos, por não
ser capaz de dar conta do recado. Deparei-me com uma das maiores dificuldades
até à data: a incapacidade. Mas, a vida é feita de fases. E em cada fase,
aparece sempre algo ou alguém que nos transmite luz. O ano passado, a meio de
decisões importantes, tive que decidir o que fazer com parte dos meus sonhos.
E, no meio de muitos reboliços e incertezas, comecei a acompanhar novamente
alguns blogues, de entre os quais, o blog No Colo da mãe, da Andreia. As suas
partilhas despertaram algo em mim, algo ao qual não sabia dar resposta:
continuar ou não a alimentar o sonho de ajudar outras pessoas com a minha
experiência enquanto pessoa, mãe e profissional? Tinha estado em modo off para
esta coisa das redes sociais e mantinha o desconhecimento sobre o interesse
pelas atividades com crianças, em Portugal.
Voltando novamente a 2016, na altura em
que tudo parecia estar a dar certo, quis iniciar uma nova fase e explorar mais
do que fazia cá em casa para que, com o nascimento da Estrela, pudesse
partilhar de que forma encaro o desenvolvimento infantil. A Andreia apareceu para
me ajudar a encontrar a resposta. Não sou pessoa de desistir de nada, muito
menos dos meus sonhos. Mas, podemos sempre adaptá-los, e concretizá-los com
objetivos diferentes. Percebi que, em Portugal, o interesse por explorar a
maternidade e trocar ideias e experiências começava a ganhar forma. De facto,
as mães portuguesas pareciam interessadas em ganhar consciência sobre o seu
papel e participarem de forma mais ativa
no desenvolvimento dos filhos.
E é aqui que o meu coração não me deixa
abandonar o que me faz sentir mais completa: este blog. À medida que
acompanhava cada atividade, sentia que não podia abdicar de algo que me fazia
tão feliz. Precisava de manter o blog, mesmo que sem o plano anteriormente traçado.
Ele será sempre um hobbie, e quero alimentar apenas isso. Agradeci à Andreia.
Agradecerei sempre. Porque se fez luz. Falo dela porque é especial. Porque partilha de corpo e alma muitas das coisas em que acredito. Porque é genuína e acredita na maternidade tanto quanto eu. É disto que eu gosto. Não poderei nunca
desistir de fazer algo que me faz bem. Na altura, isto não estava claro
para mim. Tinha sonhado com tantas coisas e nenhuma delas fui capaz de levar
até ao fim. Confrontei-me e aceitei a fase pela qual passei. E tudo começou a ser mais simples. Mesmo que surjam
novos contratempos ou volte a mudar de vida, é aqui que eu encontro a
paz, é aqui que eu me sinto completa. Gosto de desenvolver mais conhecimento
sobre o desenvolvimento infantil e humano e de trocar experiências sobre
algumas das coisas que considero fundamentais.
Hoje é um dia especial. Ele marca uma
mudança na minha vida. Expor algo tão pessoal e, no fundo, resumir todo este
percurso é algo profundo. E eu sei que esta partilha será benéfica para mim. Preciso
resolver alguns dilemas para avançar com novos planos. Não quero atingir nenhum objetivo ou alcançar uma meta. Estou apenas a tirar da gaveta algumas coisas que guardei para
deixar espaço para coisas maiores.
Obrigada a todas as pessoas que nos acompanham, que confiam em mim.
Se algum dia pensei em desistir, hoje sei que não seria eu se o tivesse feito. Não virei as costas, mas comecei a olhar para um caminho diferente. Por isso, desculpem lá qualquer coisinha, mas continuarei a espalhar "lamechiches" por aí. <3
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