terça-feira, abril 21

Bem vinda, Tele-escola


Onde está o Gabriel?
O Gabriel não aparece em muitas fotos. (vou confessar que passa o dia em cuecas e fica difícil publicar fotos dele assim). Mas esta semana está longe das atividades com a irmã. Ele está em tele-escola. E este texto é sobre isso mesmo.
Não vou escrever sobre as dificuldades de estudar em casa ou sobre a difícil arte de conciliar o trabalho dos pais com os trabalhos-de-casa da escola. Não irei escrever também sobre a dificuldade de estar em casa sem ir à escola e brincar com os amigos ou sobre todas as dificuldades inerentes a todo este processo.
Vou escrever sobre a OPORTUNIDADE e o PRIVILÉGIO de ter escola, esteja ela onde estiver. Esta semana o Gabi regressou à escola. Foram quase 2 meses longe dela. Mas ontem retomou os estudos, a partir de casa, em tele-escola, como milhares de crianças em Portugal.
Confesso que mesmo tendo lido vários desabafos, de entender os desafios desta nova realidade, fiquei feliz. Tão feliz que precisava registar tudo isso.
O Gabriel regressou à escola e é tão bom ter a oportunidade de estudar em casa, em segurança, longe dos perigos (no caso COVID-19) deste mundo.
Fiquei tão feliz e emocionada que só consegui agradecer. Agradeci pois foi inevitável pensar na quantidade de crianças por este mundo fora que não têm sequer a oportunidade de estudar. Pensei na quantidade de crianças por este mundo fora que não têm acesso à educação e naquelas que estão longe de tudo o que um ecrã lhes pode dar (ensinar, neste caso). Aliado a isso não posso deixar de pensar em todas as crianças que nem sequer têm um lar ou uns pais para as apoiar. A quantidade de crianças que gostaria de ser “driblada” entre as reuniões de trabalho e as lidas domésticas dos pais é grande. Há muitas crianças que não sabem o que é ter uns, que dariam a vida para se sentirem “confusas” no meio de todo este processo, mas a sua maior confusão passará por perguntas mais profundas, como “porque me abandonaram?”. Pensei ainda no privilégio que os nossos filhos têm por terem pais e um lar onde possam estudar. Seja numa secretária, na mesa da sala, da cozinha ou até no chão, os nossos filhos têm essa possibilidade, esta oportunidade. Tantas e tantos nunca terão. Nem agora nem nunca. Tantas e tantas crianças não têm a possibilidade de serem isoladas dos perigos deste mundo, porque elas vivem onde o perigo é ainda maior.
Ontem, quando o Gabi se sentou em frente ao computador, vieram-me as lágrimas aos olhos, pela gratidão de crianças como ele o poderem fazer, de terem a possibilidade de reorganizar os seus dias, de terem objetivos diários, de terem desafios, de terem esta abertura para o mundo e de poderem crescer. Tantas e tantas crianças à deriva, tantas e tantas pessoas sem destino. Mas os nossos filhos têm algo onde se agarrar: têm a possibilidade de ter educação.
Obrigada vida por esta oportunidade de aprender! Será uma aprendizagem não só em conhecimento empírico, mas sobretudo em conhecimento humano.
Força para todos os que estão neste processo. Nisto sim, sou capaz de dizer “vai com fé, porque vai correr bem!” ;)  



(PS: Peço desculpa por erros ou lapsos gramaticais, estes textos são escritos à primeira, sem revisão)

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