Quando se fala no pós-parto, mais
propriamente sobre a nova mãe (quando ainda alguém se lembra que ela continua a
existir) é comum que todas as atenções se dirijam ao seu corpo.
As frases chave que nos fazem quando
acabamos de dar à luz prendem-se a coisas tão banais como “estás ótima”,
“acabaste de ter um filho”, e surgem acrescentos de perguntas como “quantos quilos
engordaste na gravidez?”, “quanto tempo demoraste a voltar ao “sítio””?
Nem imaginam o quão revoltante isto é
para uma mãe em pós parto.
Mas, deixando os meus sentimentos sobre
isto para depois, vamos focar no que importa:
MÃES, MULHERES, VIZINHAS, AMIGAS,
PRIMAS, OUTRAS MÃES:
O pós parto não se resume a ter ou não o
mesmo corpo de antigamente. Até porque ele nunca será igual. Esqueçam! Não
queiram voltar à forma de antes, porque o corpo muda. Os ossos alargam para
suportar um novo ser, para não falar da quantidade de coisas que alteram e
nunca conseguiremos ver. Por isso, não esperem que em 15 dias eles voltem à sua
forma original. O peso que se perde, ou se ganha vai muito mais para além de
massa gorda ou muscular.
Depois do parto TODAS ganhamos peso.
Ganhamos o peso da responsabilidade por um novo ser, frágil e dependente de
nós. Ganhamos novos afazeres, desde a muda de fraldas à quantidade de roupa que
surge para lavar, desde as sopas que demoram horas a serem planeadas e
confecionadas porque tudo é novo e não queremos “fazer nada mal”… Surge o peso
de um novo corpo que passa a viver ao colo ou colado a nós todo o tempo.
Ganhamos o peso de uma nova gestão de horários, de rotinas, de coisas que
precisam ser asseguradas, porque afinal de contas, não passamos a cuidar apenas
de nós, passamos a cuidar de um novo corpo, bem mais importante do que o nosso.
O pós parto é um misto de sentimentos,
combinados com todas as hormonas que se multiplicam e com todas as outras que
deixam de saber ao certo qual o seu lugar. De repente, tudo é lindo e
maravilhoso, como no instante seguinte tudo é extenuante e doloroso.
E as pessoas continuam a querer saber se
recuperamos o peso de antigamente, como se nada mais houvesse para cuidar.
Quantos kilos perdeste? Estás gorda,
estás magra, estás com tantas olheiras, estás fantástica para quem foi mãe.
Não se iludam com os pós partos. O
melhor de um pós parto é receber um filho nos braços, mas as maiores mudanças
não são as externas, as que toda a gente pode ver. Quem se preocupa
verdadeiramente connosco quando não temos a casa arrumada, nem o banho tomado
nem sabemos ao certo quando o bebé ficará melhor? Quem se preocupa connosco
quando acordamos 20 vezes por noite e só nos apetece chorar? Quem se preocupa
verdadeiramente connosco quando dizemos que estamos cansadas e nos respondem
com um “é normal, não dormes a noite inteira”.
Tudo será de fachada enquanto
continuarmos a perpetuar coisas destas. Dar à luz e vir para o mundo partilhar
felicidade por podermos sair da maternidade com as roupas de antigamente em
nada contribui para que a sociedade se foque em coisas bem mais essenciais do
que o peso ou a aparência exterior.
O peso faz parte, claro que sim, fará
sempre. É o nosso corpo que está em jogo, é o nosso bem-estar, a nossa auto-estima
que passam por mudanças tão grandes como a de engravidar e dar à luz. Mas não é
só. O pós-parto nunca será apenas um corpo que deu à luz. É o pensamento, a
preocupação, a responsabilidade e o amor que se ganha quando nasce um novo ser.
Se estás no pós-parto, o melhor
exercício que podes dar a ti mesma é o exercício do “desligar”. Quando ouvires,
leres ou presenciares coisas destas apenas desliga, coloca o botão em off e
continua a tua jornada, longe das opiniões alheias.
Cada mãe precisa do seu próprio tempo
para se reajustar.
Sejam fortes e apenas foquem no
essencial: nesse novo ser que vos preenche e vos faz compreender o que é o amor
de verdade!
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