terça-feira, setembro 18

O último primeiro dia de escola


Deixei-te na escola, à hora de abertura. Observei-te até te perder de vista. E, enquanto olhava para ti, de costas voltadas para mim, só pensava na quantidade de coisas que deixamos por fazer este verão…
Como queria chorar ali, desalmadamente, como se não houvesse amanhã. Como queria que aquele fosse o último dia de aulas, antes das férias, e não o primeiro.
Foi duro deixar-te e, com isso, deixar para trás mais um verão. O tempo parece-me sempre tão pouco para tudo aquilo que gostaria de fazer contigo. Queria ser capaz de dar-te o mundo, todos os dias, sem exceção. Queria ser capaz de construir histórias maravilhosas, únicas, inacreditáveis, daquelas que nos fazem tremer e vibrar de emoção. Gostaria de ser capaz de rechear a tua história com milhares de histórias maravilhosas. Mas, não sou. Ao ver-te, de costas voltadas para mim, ao mesmo tempo que me despedia das férias de verão, pude ter a certeza de que não tenho sido sempre assim. Pelo menos, não o sou todos os dias, como gostaria. Se soubesses o peso que trago dentro de mim, por não ser capaz de dar-te mais e mais… Se soubesses o peso que a consciência de uma mãe inquieta acarreta, talvez me apertasses ainda mais em cada abraço, talvez permitisses que eu te “esmagasse” mais em cada colo que te dou.
Durante as férias, foram várias as vezes em que o cansaço tomou conta de mim, mas ao olhar para ti, e para momentos como este, sinto que toda a energia se recupera. Quero aproveitar ao máximo todo o tempo que estiver contigo, todos os dias, semanas, sempre e para sempre. Quero ensinar-te coisas novas, sejam elas descobrir palavras diferentes no dicionário, resolver problemas de matemática, ou simplesmente subir mais alto da próxima vez que trepares uma árvore. Quero ensinar-te o quanto é agradável estudar, mas ao mesmo tempo, mostrar-te que é bom demais quando conseguimos saborear tudo o que existe para além dos muros da escola.
Meu filho desejo-te um ano letivo tão, mas tão bom, e desejo de igual forma, contribuir para isso.
Depois de perder-te de vista, virei costas, voltei para casa e prometi à tua irmã: logo voltaremos para buscar o mano, com a calma necessária para escutar todas as suas histórias.
E, assim foi. E o primeiro dia terminou.

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