sexta-feira, julho 12

ESTRELA: UM EPISÓDIO DE SINOVITE TRANSITÓRIA DA ANCA


Um dia, algures cá por casa, achei que a Estrela estava a mancar. Dois ou três dias depois, volto a notar a mesma coisa e partilho com o meu marido a minha opinião. Como sou bastante picuinhas e observadora, ele desvalorizou. Podia ser só “da minha cabeça”. Mas passamos a ficar os dois atentos nos dias seguintes. Começou a dar-nos a sensação de que realmente aquela marcha não andava igual ao habitual. Esperamos uns dias para ver a evolução. Um dia, vou busca-la à creche e ela vem até mim a mancar mais do que até então. Questiono se teria acontecido alguma coisa, alguma queda ou exercício diferente que pudesse causar aquilo. Nada. Não tinha acontecido nada. No dia seguinte, a mesma coisa. Esperamos mais uns dias para perceber se teria sido algum “mau jeito”. Mas não havia forma de passar. Alguns dias apresentava uma marcha mais “normal”, noutros notava-se bastante uma alteração. Decidimos ir ao médico para ver o que se passava. Um dia, já depois do jantar, fomos às urgências do hospital. Refletindo, a verdade é que ela andava a pedir mais colo do que o habitual. Julguei ser algo articular. Apenas. Mas não notava nenhuma alteração ao toque nem durante a mobilização dos membros inferiores (nós, terapeutas ocupacionais, também aprendemos sobre reabilitação física, e normalmente “dou um jeito” cá em casa quando o problema é neste âmbito). Mas não parecia existir alterações.

Na urgência, partimos logo para a ecografia, por suspeita do enfermeiro depois de toda a explicação da história. Podia não ser articular, podia ser alguma inflamação da articulação. E era. A Estrela estava com líquido na anca. As duas articulações estavam inflamadas e, por esse motivo, ela mancava. Pedia colo porque lhe doía. E nós nunca imaginamos uma coisa destas. A médica prescreveu brufen durante 5 dias, 3 vezes ao dia. Caso não passasse, teríamos que recorrer à urgência para nova avaliação uma semana depois. Não completamos todas as tomas de brufen porque a Estrela começou a evidenciar alterações gastrointestinais. Durante esse tempo, tentamos não estimular a marcha e esperamos duas semanas antes de voltar à urgência. Estávamos convencidos que passaria. Mas não passou. Mais duas semanas e nada. Continuava igual.

Voltamos à urgência. Nova ecografia. Os resultados anteriores mantinham-se iguais. Fez análises e verificaram-se alterações morfológicas em algumas células. Aqui o alerta disparou! Como assim alterações nas células? Mas que tipo de alteração? Em que células? O que isso implica? Bem… Não tive resposta. Parecia algo transitório mas nem tudo estava de acordo com um diagnóstico “mais leve”, digamos assim. A médica que nos atendeu descartou infeções para poder dar alta à Estrela nesse dia.
Por opinião da médica, caso não houvesse conclusão sobre o diagnóstico teria que ficar internada para realizar uma ressonância de urgência. Nesse dia, esperamos horas e horas pelos resultados das análises e regressamos a casa com indicação para voltar na semana seguinte, para que pudesse ser vista por uma especialista de ortopedia.

Assim fizemos. Preparei a mochila com brinquedos, comidas e mudas de roupa. Queria estar preparada para qualquer eventualidade. Em casa, as coisas ficaram organizadas para os dias seguintes, porque havia a hipótese de internamento. Mas não aconteceu. Mas, ainda bem que fui de malas e bagagens, porque estivemos 10 horas no hospital. Felizmente, foi muito pacífico. Ir preparada e com a expetativa de que poderia ser demorado ajudou. Estávamos lá para tentar descobrir o que se passava. A Estrela fartou-se de brincar, de fazer atividades diferentes (desde pintura, leitura, jogos,…), dormiu a sesta, comeu,… Fez tudo o que faria num dia “normal”, mas num local diferente.
Repetiu os exames: nova ecografia e novas análises. Novamente os mesmos resultados. A médica contactou o laboratório de análises para perceber em que consistiam as alterações manifestadas nas análises. Mas nada de anormal, segundo ela. Despistou diagnósticos de osteomielite, artrite reumatoide e sem uma conclusão 100% baseada na evidência, recomendou que a Estrela ficasse em casa durante 5 dias, sendo encaminhada para consulta externa após esse tempo. Assim foi. O objetivo seria perceber se a alteração da marcha se mantinha ou desaparecia, estando longe de possíveis fontes víricas. 5 dias depois estávamos em consulta para reavaliação. A marcha continuava alterada. Aparentemente, melhor. Mas ainda assim continuava com alteração. Na dúvida, a médica prescreveu uma ressonância magnética para o mês seguinte.
E durante o tempo de espera a Estrela foi melhorando aos poucos. Tentamos manter o descanso, sempre que possível. E aos poucos começou a andar “normal”. Mas, a dúvida resistia: será que a inflamação desapareceu? Será que ainda tem vestígios de líquido na articulação? Será que a inflamação provocou alguma alteração? Eu não estava preparada para a ressonância. Ela não sabia o que a aguardava. Sendo tão pequena, teria que levar anestesia geral. Que MEDO! Mas, para confirmar este episódio era recomendado que a fizesse.
Chegou o dia da ressonância. Um dia daqueles. Oh meu DEUS! Tenho que escrever sobre ele aparte. Fez a ressonância e dois dias depois regressamos à consulta externa para saber o resultado. Análise ao resultado: sem alterações! UFA! Nem imaginam o alívio. Que bom! Que bom! Está tudo bem. Agora sim, temos a certeza de que foi algo passageiro. Algo que demorou mais tempo do que o habitual para este tipo de situação, mas mesmo assim, passageiro.
Não há dúvidas. A Estrela teve uma sinovite transitória da anca. Uma alteração bastante frequente em crianças pequenas, sobretudo após um quadro vírico. Resolvi escrever sobre isto para alertar outros pais que, tal como nós, desconheciam este quadro. Li uma partilha sobre uma criança que passou pelo mesmo, mas não durou tanto tempo como no caso da Estrela. Se virem os vossos filhos a mancar, lembrem-se, nem tudo é articular.
No caso da Estrela (ou de outra criança que já o teve) não significa que não possa voltar a ter. Ter uma vez não altera a probabilidade de um novo episódio. Mas, uma coisa é certa. Se houver próxima vez, já saberemos como agir. Dar brufen 3 ou 4 dias e se não passar, correr para as urgências! E pronto. Muito miminho para ela e para nós, que estes sustos tiram-nos o fôlego.

Espero que este relato possa elucidar ou ajudar outras famílias.

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