Um
dia, algures cá por casa, achei que a Estrela estava a mancar. Dois ou três
dias depois, volto a notar a mesma coisa e partilho com o meu marido a minha
opinião. Como sou bastante picuinhas e observadora, ele desvalorizou. Podia ser
só “da minha cabeça”. Mas passamos a ficar os dois atentos nos dias seguintes.
Começou a dar-nos a sensação de que realmente aquela marcha não andava igual ao
habitual. Esperamos uns dias para ver a evolução. Um dia, vou busca-la à creche
e ela vem até mim a mancar mais do que até então. Questiono se teria acontecido
alguma coisa, alguma queda ou exercício diferente que pudesse causar aquilo.
Nada. Não tinha acontecido nada. No dia seguinte, a mesma coisa. Esperamos mais
uns dias para perceber se teria sido algum “mau jeito”. Mas não havia forma de
passar. Alguns dias apresentava uma marcha mais “normal”, noutros notava-se
bastante uma alteração. Decidimos ir ao médico para ver o que se passava. Um
dia, já depois do jantar, fomos às urgências do hospital. Refletindo, a verdade
é que ela andava a pedir mais colo do que o habitual. Julguei ser algo
articular. Apenas. Mas não notava nenhuma alteração ao toque nem durante a
mobilização dos membros inferiores (nós, terapeutas ocupacionais, também
aprendemos sobre reabilitação física, e normalmente “dou um jeito” cá em casa
quando o problema é neste âmbito). Mas não parecia existir alterações.
Na
urgência, partimos logo para a ecografia, por suspeita do enfermeiro depois de toda
a explicação da história. Podia não ser articular, podia ser alguma inflamação
da articulação. E era. A Estrela estava com líquido na anca. As duas
articulações estavam inflamadas e, por esse motivo, ela mancava. Pedia colo
porque lhe doía. E nós nunca imaginamos uma coisa destas. A médica prescreveu
brufen durante 5 dias, 3 vezes ao dia. Caso não passasse, teríamos que recorrer
à urgência para nova avaliação uma semana depois. Não completamos todas as
tomas de brufen porque a Estrela começou a evidenciar alterações
gastrointestinais. Durante esse tempo, tentamos não estimular a marcha e
esperamos duas semanas antes de voltar à urgência. Estávamos convencidos que
passaria. Mas não passou. Mais duas semanas e nada. Continuava igual.
Voltamos
à urgência. Nova ecografia. Os resultados anteriores mantinham-se iguais. Fez
análises e verificaram-se alterações morfológicas em algumas células. Aqui o
alerta disparou! Como assim alterações nas células? Mas que tipo de alteração?
Em que células? O que isso implica? Bem… Não tive resposta. Parecia algo
transitório mas nem tudo estava de acordo com um diagnóstico “mais leve”,
digamos assim. A médica que nos atendeu descartou infeções para poder dar alta
à Estrela nesse dia.
Por
opinião da médica, caso não houvesse conclusão sobre o diagnóstico teria que
ficar internada para realizar uma ressonância de urgência. Nesse dia, esperamos
horas e horas pelos resultados das análises e regressamos a casa com indicação
para voltar na semana seguinte, para que pudesse ser vista por uma especialista
de ortopedia.
Assim
fizemos. Preparei a mochila com brinquedos, comidas e mudas de roupa. Queria
estar preparada para qualquer eventualidade. Em casa, as coisas ficaram
organizadas para os dias seguintes, porque havia a hipótese de internamento. Mas
não aconteceu. Mas, ainda bem que fui de malas e bagagens, porque estivemos 10
horas no hospital. Felizmente, foi muito pacífico. Ir preparada e com a
expetativa de que poderia ser demorado ajudou. Estávamos lá para tentar
descobrir o que se passava. A Estrela fartou-se de brincar, de fazer atividades
diferentes (desde pintura, leitura, jogos,…), dormiu a sesta, comeu,… Fez tudo
o que faria num dia “normal”, mas num local diferente.
Repetiu
os exames: nova ecografia e novas análises. Novamente os mesmos resultados. A
médica contactou o laboratório de análises para perceber em que consistiam as
alterações manifestadas nas análises. Mas nada de anormal, segundo ela.
Despistou diagnósticos de osteomielite, artrite reumatoide e sem uma conclusão
100% baseada na evidência, recomendou que a Estrela ficasse em casa durante 5
dias, sendo encaminhada para consulta externa após esse tempo. Assim foi. O
objetivo seria perceber se a alteração da marcha se mantinha ou desaparecia,
estando longe de possíveis fontes víricas. 5 dias depois estávamos em consulta
para reavaliação. A marcha continuava alterada. Aparentemente, melhor. Mas ainda
assim continuava com alteração. Na dúvida, a médica prescreveu uma ressonância
magnética para o mês seguinte.
E
durante o tempo de espera a Estrela foi melhorando aos poucos. Tentamos manter
o descanso, sempre que possível. E aos poucos começou a andar “normal”. Mas, a
dúvida resistia: será que a inflamação desapareceu? Será que ainda tem
vestígios de líquido na articulação? Será que a inflamação provocou alguma
alteração? Eu não estava preparada para a ressonância. Ela não sabia o que a
aguardava. Sendo tão pequena, teria que levar anestesia geral. Que MEDO! Mas,
para confirmar este episódio era recomendado que a fizesse.
Chegou
o dia da ressonância. Um dia daqueles. Oh meu DEUS! Tenho que escrever sobre
ele aparte. Fez a ressonância e dois dias depois regressamos à consulta externa
para saber o resultado. Análise ao resultado: sem alterações! UFA! Nem imaginam
o alívio. Que bom! Que bom! Está tudo bem. Agora sim, temos a certeza de que
foi algo passageiro. Algo que demorou mais tempo do que o habitual para este tipo
de situação, mas mesmo assim, passageiro.
Não
há dúvidas. A Estrela teve uma sinovite
transitória da anca. Uma alteração bastante frequente em crianças pequenas,
sobretudo após um quadro vírico. Resolvi escrever sobre isto para alertar outros
pais que, tal como nós, desconheciam este quadro. Li uma partilha sobre uma
criança que passou pelo mesmo, mas não durou tanto tempo como no caso da
Estrela. Se virem os vossos filhos a mancar, lembrem-se, nem tudo é articular.
No
caso da Estrela (ou de outra criança que já o teve) não significa que não possa
voltar a ter. Ter uma vez não altera a probabilidade de um novo episódio. Mas,
uma coisa é certa. Se houver próxima vez, já saberemos como agir. Dar brufen 3
ou 4 dias e se não passar, correr para as urgências! E pronto. Muito miminho
para ela e para nós, que estes sustos tiram-nos o fôlego.
Espero que este relato possa elucidar ou ajudar outras famílias.
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