Afinal, em Portugal, o bom senso pode
comprar-se?
Até há uns dias atrás, uma simples ida
ao supermercado tornava-se mais cansativa na caixa de pagamento do que nas
compras em si.
Mas, de um dia para o outro o cenário inverteu-se
radicalmente: os portugueses mudaram mesmo de atitude!!
Esta semana fui algumas vezes ao
supermercado, fazer compras pequenas. Nesta fase da gravidez custa bastante
carregar muita coisa ao mesmo tempo. De todas as vezes que me aproximo da caixa
ouvem-se logo as pessoas na fila “pode passar
à frente”, “quer passar à frente?”, “tem
prioridade”, e os funcionários que muitas vezes pareciam desatentos às
filas, agora estão de olhos bem abertos: “pode
passar”, “tem prioridade em qualquer caixa”. Acordaram todos agora, foi?!
Ninguém me pediu opinião, mas
sinceramente acho isto completamente RIDÍCULO!!
A primeira vez que entrei no
supermercado desde que a lei ameaçou o pagamento de uma multa, a minha resposta
para o funcionário foi: “a quantidade de
multas que já deveriam ter sido pagas…”.
É verdade. Em todas as idas anteriores
ao supermercado, foram imensas as vezes em que as pessoas fizeram de conta, em
que os funcionários não quiseram saber, em que pessoas praticamente correram
para passar à frente. Felizmente, e para não me chatear, prefiro sempre pensar
que elas terão menos tempo de vida do que eu, e por isso, é normal que queiram
despachar-se (um pensamento ridículo, talvez, mas o único que permite que não
me incomode).
Neste último mês, o cansaço tem sido
muito e uma ida às compras é, por vezes, a única coisa produtiva que sou capaz
de fazer durante um dia inteiro. Por isso, agradecia que houvesse bom senso
desde aí. No entanto, o bom povo português só funciona quando falam em
dinheiro. Ah, se corremos o risco de pagar uma multa, vamos lá ficar atentos e
cumprir o nosso papel. As multas chamam a atenção de qualquer pessoa. Concorde
ou não com a lei, até a pessoa mais matreira é capaz de ficar atenta a quem se
aproxima da fila.
É triste, é muito triste que seja
necessário este tipo de leis para que o bom senso comece a ser praticado. Digo
praticado, porque na maioria dos casos ele continua sem existir. Não é de um
dia para o outro que as pessoas mudam os seus valores. Não é um de um dia para
o outro que as pessoas começam a preocupar-se com os outros. Não é de um dia
para o outro que as pessoas começam a ter em atenção certos grupos, por serem
mais frágeis, suscetíveis, o que lhes queiram chamar. Muito menos, é de um dia
para o outro que as pessoas deixam de pensar primeiro nelas para pensarem
primeiro nos outros. Não venham com tretas, que esta coisa da prioridade
deixa-me mesmo muito irritada.
Fico tão chateada com isto, que resolvi
partilhar convosco algumas experiências que tive até a semana passada.
As piores de todas passaram-se sempre no
Pingo Doce. Aquela caixa prioritária, que mais parece uma caixa de atendimento
rápido, raramente teve em atenção o tamanho da minha barriga. Se ela estivesse
assim tão pequena, até compreenderia, mas infelizmente não foi por isso que, na
maior parte das vezes, fiquei na fila à espera da minha vez! Vocês podem
questionar-se: “podias pedir para passar à frente”. Poder até podia. Mas, das
vezes que pedi - e só o faço quando estou mesmo cansada -, as pessoas da fila e
até os funcionários ficam a olhar de uma forma como se pedir prioridade fosse
um exagero, como se pedir prioridade fosse algum facilitismo ou um favor. E,
muito sinceramente, prefiro que guardem os favores no bolso, mesmo que a lei me
defenda.
O único local onde sempre fui
considerada prioritária foi no Lidl. Aí sim, não tenho nada a dizer sobre os
funcionários, pois normalmente são eles que chamam para passar à frente.
Sobre o Continente, a minha opinião
divide-se entre as grandes superfícies e as pequenas. Nas grandes superfícies
nunca tive qualquer problema. Por outro lado, nas superfícies mais pequenas nunca
vi sequer a caixa prioritária aberta.
No Jumbo, houve duas situações
desagradáveis: uma vez, uma pessoa fez de conta que não me viu, mas a
funcionária chamou-me para passar à frente, e ficou resolvido. A pessoa deve
ter metido o orgulho no bolso. A última aconteceu no final da semana passada.
Para evitar percorrer o supermercado e depois voltar para o lado oposto, onde tinha
o carro estacionado, fiquei na caixa mais próxima da saída. O tempo de espera
foi tanto, mas tanto, que só não adormeci ali, pendurada no carrinho de compras
por sorte!
Enfim… Espero que estas tenham sido as
últimas más experiências, quer para mim, quer para quem precisa mesmo da
prioridade.
Por isso, um bem-haja a quem se lembrou
de falar em multas. Só isso faz com que as leis sejam mesmo cumpridas.
De tudo isto, apenas tenho pena que
tenham mudado de atitude, mas os valores continuem iguais.
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