Esta foto tem qualquer coisa como 9 anos (quase!!). Estes dias, o
facebook recordou-me dela. E eu fiquei a pensar… Pensei e repensei sobre quem
era eu naquela altura. Como estava a minha vida, como a imaginaria todos estes
anos depois.
Eu era uma jovem que há pouco tempo começara a viver a sua própria vida,
segundo as suas próprias regras. Era uma jovem apaixonada pelo marido, que via
nele o maior amor da sua vida. Era uma jovem mamã, que via no seu filho o maior
objetivo de vida. Era uma jovem mamã, com um filho de pouco mais de 1 ano,
saudável e feliz. Era uma jovem a entrar para o último ano de curso, de um
curso que demorou para encontrar, mas que via nele o seu maior compromisso como
ser social: o de ajudar outras pessoas. Eu era uma jovem, cheia de sonhos, com
todo o entusiasmo e mais algum, que acreditava piamente que todo o mundo tinha
um coração do tamanho do seu. Eu era uma jovem que imaginava um mundo
cor-de-rosa, cheio de oportunidades e pessoas maravilhosas com as quais poderia
vir a cruzar-me. Eu era uma jovem em paz, feliz, decidida, delicada, apaixonada
e sonhadora.
Eu era assim. Mas ao longo destes anos algumas coisas não correram de
acordo com a minha visão, talvez cheia de ilusão, mas repleta de amor. A vida
mostrou-me que nem tudo seriam rosas, que não há um mundo cor-de-rosa lá fora,
à nossa espera. Os desafios provaram-me que as rosas também têm espinhos. E que,
por vezes, as mais belas são as que mais nos tramam. A vida mostrou-me que a
vida é feita de fases, que nem todas dependem só de nós, que somos obrigados a
lidar com pessoas e coisas que por vezes não queremos nem com as quais
compactuamos. A vida ensinou-me que a paz não existe no mundo inteiro, nem todo
o mundo tem um coração bom. A vida ensinou-me que às vezes precisamos desligar
dos outros para encontrarmos a paz. Que nem toda a gente quer ajuda. Que nem
toda a gente age sem interesse. Que nem toda a gente é feliz com a felicidade
dos outros. A vida ensinou-me que há mais egoísmo do que imaginava. Que a serenidade
e a paz existe em nós, se colocarmos barreiras que nos protejam. Que não se
pode contar com todos, nem contar tudo a todos. A vida provou-me que a idade
nos faz MESMO crescer. Que a maturidade nos ajuda a dissociar o que queremos
aceitar e o que não estamos dispostos a ceder. E que não é por isso que nos
tornamos pessoas piores. Mas a responsabilidade de ter uma vida para cuidar torna-nos
seres que defendem com mais força os seus direitos e que impõe as suas
barreiras mais afincadamente. A vida tornou-me uma pessoa mais seletiva.
Dececionou-me mais vezes do que imaginei, por não estar preparada para a
realidade que enfrentei. A vida ensinou-me que no mundo do trabalho (e não só!)
parecer é, por vezes, mais apetecível do que ser. Que os amigos verdadeiros não
querem saber onde estás, mas como estás. Que o amor não é verdadeiro por nos
dizer “amo-te”, mas também por dizer “quero continuar a amar-te”. Que às vezes
precisamos não precisamos dar-nos demais, que podemos jogar na defensiva. A
vida ensinou-me que, às vezes, não precisas dar tudo o que tens para seres
valorizado. A vida ensinou-me tudo isto e muito mais.
Anos depois, esta continuo a ser eu. Diferente na forma, mas igual no
conteúdo. Sei mais sobre mim do que sabia, mas sobretudo sobre o mundo ao meu
redor. Sinto-me diferente, mas mas tenho tanto de igual. Dá para compreender? Confesso
que ainda sinto saudades deste tempo, de me sentir no paraíso, de acreditar que
todo o mundo é igual a mim. Tenho saudades do tempo em que não precisava
“defender-me”, porque acreditava que ninguém me queria mal. Tenho saudades de
acreditar num mundo perfeito. Confesso que tenho saudades, porque não, não é
fácil crescer. Mas, posso dizer também que nada poderia ser diferente. Nunca
estaria preparada para que tivesse sido diferente. E, ainda bem. Porque nestes
anos todos, sei que não só renasci, mas também cresci mais do que estava à
espera. E, mesmo que algumas ilusões tenham virado deceções, eu continuo cá,
sendo eu mesma, sem julgar ou menosprezar. Continuo sendo eu mesma, querendo
ser melhor a cada dia que passa. Querendo continuar a sonhar, mesmo quando
querem roubar-me os sonhos. Continuo a ser eu mesma, e a entregar-me por
inteiro aos meus, e a quem foi capaz de percorrer este trajeto ao meu lado, e
mesmo com todos os altos e baixos, se manteve fiel a si mesmo e a mim. É
curioso pensar em nós assim, olhando para um ponto da nossa vida em que não
imaginaríamos o tanto de coisas que teríamos pela frente para viver. Mas é bom
pensar sobre isso e refletir em tudo o que contribuiu para que tudo tivesse
sido desse jeito e não de outro. É tão bom saborear as mudanças e pensar no que
contribuíram para que tivessem sido assim. Porque, mesmo quando nem tudo
depende de nós, a nossa reação dependerá sempre de quem nós somos. E eu, apesar
de tudo o que não esperei, continuarei a ser assim: simples, sincera e fiel. A
mim e aos meus.
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