segunda-feira, abril 22

Quem sou eu, 9 anos depois?


Esta foto tem qualquer coisa como 9 anos (quase!!). Estes dias, o facebook recordou-me dela. E eu fiquei a pensar… Pensei e repensei sobre quem era eu naquela altura. Como estava a minha vida, como a imaginaria todos estes anos depois.
Eu era uma jovem que há pouco tempo começara a viver a sua própria vida, segundo as suas próprias regras. Era uma jovem apaixonada pelo marido, que via nele o maior amor da sua vida. Era uma jovem mamã, que via no seu filho o maior objetivo de vida. Era uma jovem mamã, com um filho de pouco mais de 1 ano, saudável e feliz. Era uma jovem a entrar para o último ano de curso, de um curso que demorou para encontrar, mas que via nele o seu maior compromisso como ser social: o de ajudar outras pessoas. Eu era uma jovem, cheia de sonhos, com todo o entusiasmo e mais algum, que acreditava piamente que todo o mundo tinha um coração do tamanho do seu. Eu era uma jovem que imaginava um mundo cor-de-rosa, cheio de oportunidades e pessoas maravilhosas com as quais poderia vir a cruzar-me. Eu era uma jovem em paz, feliz, decidida, delicada, apaixonada e sonhadora.
Eu era assim. Mas ao longo destes anos algumas coisas não correram de acordo com a minha visão, talvez cheia de ilusão, mas repleta de amor. A vida mostrou-me que nem tudo seriam rosas, que não há um mundo cor-de-rosa lá fora, à nossa espera. Os desafios provaram-me que as rosas também têm espinhos. E que, por vezes, as mais belas são as que mais nos tramam. A vida mostrou-me que a vida é feita de fases, que nem todas dependem só de nós, que somos obrigados a lidar com pessoas e coisas que por vezes não queremos nem com as quais compactuamos. A vida ensinou-me que a paz não existe no mundo inteiro, nem todo o mundo tem um coração bom. A vida ensinou-me que às vezes precisamos desligar dos outros para encontrarmos a paz. Que nem toda a gente quer ajuda. Que nem toda a gente age sem interesse. Que nem toda a gente é feliz com a felicidade dos outros. A vida ensinou-me que há mais egoísmo do que imaginava. Que a serenidade e a paz existe em nós, se colocarmos barreiras que nos protejam. Que não se pode contar com todos, nem contar tudo a todos. A vida provou-me que a idade nos faz MESMO crescer. Que a maturidade nos ajuda a dissociar o que queremos aceitar e o que não estamos dispostos a ceder. E que não é por isso que nos tornamos pessoas piores. Mas a responsabilidade de ter uma vida para cuidar torna-nos seres que defendem com mais força os seus direitos e que impõe as suas barreiras mais afincadamente. A vida tornou-me uma pessoa mais seletiva. Dececionou-me mais vezes do que imaginei, por não estar preparada para a realidade que enfrentei. A vida ensinou-me que no mundo do trabalho (e não só!) parecer é, por vezes, mais apetecível do que ser. Que os amigos verdadeiros não querem saber onde estás, mas como estás. Que o amor não é verdadeiro por nos dizer “amo-te”, mas também por dizer “quero continuar a amar-te”. Que às vezes precisamos não precisamos dar-nos demais, que podemos jogar na defensiva. A vida ensinou-me que, às vezes, não precisas dar tudo o que tens para seres valorizado. A vida ensinou-me tudo isto e muito mais.
Anos depois, esta continuo a ser eu. Diferente na forma, mas igual no conteúdo. Sei mais sobre mim do que sabia, mas sobretudo sobre o mundo ao meu redor. Sinto-me diferente, mas mas tenho tanto de igual. Dá para compreender? Confesso que ainda sinto saudades deste tempo, de me sentir no paraíso, de acreditar que todo o mundo é igual a mim. Tenho saudades do tempo em que não precisava “defender-me”, porque acreditava que ninguém me queria mal. Tenho saudades de acreditar num mundo perfeito. Confesso que tenho saudades, porque não, não é fácil crescer. Mas, posso dizer também que nada poderia ser diferente. Nunca estaria preparada para que tivesse sido diferente. E, ainda bem. Porque nestes anos todos, sei que não só renasci, mas também cresci mais do que estava à espera. E, mesmo que algumas ilusões tenham virado deceções, eu continuo cá, sendo eu mesma, sem julgar ou menosprezar. Continuo sendo eu mesma, querendo ser melhor a cada dia que passa. Querendo continuar a sonhar, mesmo quando querem roubar-me os sonhos. Continuo a ser eu mesma, e a entregar-me por inteiro aos meus, e a quem foi capaz de percorrer este trajeto ao meu lado, e mesmo com todos os altos e baixos, se manteve fiel a si mesmo e a mim. É curioso pensar em nós assim, olhando para um ponto da nossa vida em que não imaginaríamos o tanto de coisas que teríamos pela frente para viver. Mas é bom pensar sobre isso e refletir em tudo o que contribuiu para que tudo tivesse sido desse jeito e não de outro. É tão bom saborear as mudanças e pensar no que contribuíram para que tivessem sido assim. Porque, mesmo quando nem tudo depende de nós, a nossa reação dependerá sempre de quem nós somos. E eu, apesar de tudo o que não esperei, continuarei a ser assim: simples, sincera e fiel. A mim e aos meus.  



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