OH
não! Outra vez não! Ecoa o grito daquela voz na nossa cabeça,
quando o dia começa com a mesma agitação do dia anterior.
Come
o pão! Bebe o leite! Já lavaste os dentes? Ainda não calçaste as meias?
Despacha-te, que já estamos atrasados! Ainda não assinei o recado? Mas porque
só o deste agora?
O regresso à rotina, neste novo ano,
faz-me repensar sobre aqueles comportamentos que teimam em perseguir-nos, a
nós, homens e mulheres que vivemos controlados por um relógio, como se fossemos
um robot. E é como robôs que queremos, por vezes, educar os nossos filhos.
Agora
não dá, temos que jantar. Hoje já não dá, está tarde. Agora não podemos, outro
dia. Se fosse mais cedo, se não fosse tão tarde. Se não houvesse escola amanhã,
se não tivéssemos chegado tão tarde hoje… todos os dias,
encontramos mil e uma desculpas para não atender às vontades dos nossos filhos.
Continuo a achar que todos vivemos por
fases, e há estas fases, em que o tempo de qualidade é substituído pelo tempo
de quantidade, que até ver, é sempre pouco para tudo. São os horários – deles e
os nossos -, são as responsabilidades, é o cansaço, a falta de energia, aquela
constipação,… São muitas as coisas que nos tentam, a todo o custo, levar por
caminhos difíceis de trilhar. São muitas as coisas que, todos os dias, tentamos
contornar para que o dia seja o mais produtivo possível. Mas, quantas vezes,
não nos deitamos com aquela sensação de que fizemos tudo ao contrário e que,
talvez se tivéssemos feito isto ou aquilo, teríamos tido tempo para fazer um
jogo, ler uma história, ou simplesmente conversar atentamente com os nossos
filhos…
A vida passa a uma velocidade
alucinante. Digo eu, mas diz toda a gente com quem converso. Mas, na realidade,
a vida não passa. Nós passamos pela vida, sem a viver de verdade. É bom parar e
repensar sobre isto, de vez em quando. É quando paramos e refletimos que
voltamos a ganhar coragem para mudar o que queremos mudar, mas por culpa dos
horários que nós próprios criamos, nunca somos capazes de o fazer.
Neste novo ano, vamos refletir sobre
isto. Vamos tentar não stressar tanto com os nossos filhos. Vamos tentar
escutá-los quando eles precisarem. Vamos tentar contar aquela história, ver
aquele filme. Nunca será tudo perfeito. Mas, se não for perfeito, pelo menos
que seja perfeito o tempo que dispensamos por eles, para eles.
Eles crescem, nós envelhecemos. Se não
lhes ensinarmos o valor do tempo em qualidade, depois serão eles que não terão
tempo para nós…
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