Desde sempre, ouvimos falar
em regras.
Antes de explorarmos esta
temática, contextualizemos as nossas experiências.
Enquanto
crianças, éramos obrigados a cumprir as regras que os nossos pais nos
impunham.
Porque senão… Senão ui! Lá
se ia uma ou duas palmadas ou um castigo severo.
“Não podes ver mais televisão.”
E lá vinha a pergunta “Porquê?” E a resposta era sempre a mesma “Porque sou eu que
mando!”. Esta era uma realidade muito comum.
Éramos crianças (mais) soberanas
do que as crianças de hoje em dia. Bastava um olhar e já sabíamos que estávamos
a “fugir do risco”. Bastava um grito mais alto e a vontade de desaparecer era,
muitas vezes, maior do que o medo ou a vergonha de estar naquele local, com pessoas
a olharem para nós (ou apenas os nossos irmãos).
Os nossos pais viviam em
função dos filhos: trabalhavam o mais que podiam, faziam poupanças para assegurar
o nosso futuro acadêmico. No fundo, tentavam que nada nos faltasse.
Mas, o tempo que tinham para
cuidar de nós era tão pouco, tão escasso, que queriam que o pouco tempo fosse o
mais perfeito possível.
Por isso, e porque basicamente
trabalhavam para nós, exigiam de nós a perfeição. Exigiam que fossemos os
melhores alunos, os melhores amigos, os melhores filhos, exímios do
comportamento humano, sem questionarmos qual seria a nossa verdadeira
personalidade, vontade ou opinião.
O tempo mudou. Agora
adultos, outrora crianças, crescemos. Esta experiência com as regras ditadas de
forma unidirecional não foi, de todo, a que pretendíamos para nós. Para
contrariar o nosso passado, hoje, como pais, tentamos ser o mais permissivo
possível, deixamos os nossos filhos fazerem tudo o que lhes apetece, damos-lhe
tudo o que pedem e até facilitamos as poucas regras que tentamos criar.
Queremos proporcionar aos
nossos filhos o que nós não tivemos: a atenção, o espaço para a opinião, a
inexistência de regras rígidas, entre outras coisas.
E isto está a resultar?
Parece que não.
No meio desta evolução, muitas vezes, acabamos
por esquecer onde estão as regras, que somos nós que as devemos criar.
Não é necessário associar as regras a punições
físicas ou castigos severos, punindo as crianças com os objetos que elas mais
amam. Isso só dificulta as coisas. Isso irá gerar mais tristeza nas nossas
crianças e, assim, terão muito mais dificuldade em compreender o objetivo da
regra que estabelecemos.
As regras devem estar associadas a uma rotina,
da qual como responsáveis, devemos ser quem dá o exemplo. Se combinamos com a
criança que ela deitar-se-á às 21 horas, não devemos ser nós a quebrar essa
regra. Todas as vezes que facilitamos uma regra, estamos na verdade, a
quebrá-la. E, as regras e as rotinas, demoram o seu tempo até se tornarem sólidas.
As regras devem existir sim. Devem ser simples,
diretas e de fácil entendimento para a criança. Depois da regra, o trabalho é
nosso. Devemos dar estrutura à criança para que a regra possa ser cumprida. E,
depois disso, deixar que o tempo ajude a criança a interiorizar a aprendizagem.
Depois disso, estamos prontos para explicar à
criança que a responsabilidade é dela e ela tem a opção de escolha sobre as
regras construídas (quebrar ou não). Nunca podemos esquecer-nos de que todas as escolhas têm uma
consequência: positiva ou não, dependendo do comportamento ou situação. E é isso que devemos ensinar aos nossos filhos.