Se, em tempos,
se pintava a maternidade de cor-de-rosa, e se vendiam fórmulas incríveis para
ter filhos perfeitos, hoje em dia tenho a ligeira sensação de que se quer
partilhar a maternidade como sendo um bocadinho mais difícil (usando uma
linguagem simpática).
Virou trend dizer que a maternidade não é
assim tão fácil, que é desafiante, que é exigente, que tem isto ou aquilo de
dificuldade, contrapondo qualquer lado positivo. O que isso nos traz? Uma
mudança de paradigma, ou seja, de perspetiva. Automaticamente, focamos nessas exigências
e esquecemos que a maternidade pode sim ser cor-de-rosa. Porque não?
No meio do meu
processo de descoberta e desenvolvimento pessoal dei por mim, muitas vezes, a
aceitar que a dificuldade faz parte da maternidade. Não existem dois dias
iguais. Não existem filhos perfeitos. Não existem mães sobrenaturais. Blá, Blá,
Blá…Mas o que me afetou seriamente foi quando percebi que tinha deixado de
tentar de encontrar a solução, porque estava apenas focada em aceitar cada
desafio como o novo normal.
Talvez porque
seja teimosa, comecei a refletir sobre isso e percebi que o que existem são “realidades”
diferentes. E é cada uma dessas realidades que vai decidir se a maternidade é
mais ou menos “cor-de-rosa”, mais ou menos “exigente”. E essa realidade somos
nós que a criamos, com base naquilo que defendemos, na forma como a encaramos.
Com o aumento
das partilhas e de conteúdo sobre a “vida real”, somos inundados com histórias,
muitas vezes defendidas como se fossem a missão que veio para transformar o
mundo e acordar os mais sonhadores. No meio disto, deixamo-nos, tantas vezes,
contaminar pela visão dos outros. Quer queiramos quer não, passamos a olhar para
a nossa maternidade com o olhar da outra mãe. Preocupamo-nos com assuntos que
nem são nossos. E, muitas vezes, sem percebermos, levamos para a nossa vida algo
a mais, que não nos pertence. E isso, de forma mais ou menos consciente,
impacta a nossa postura, expetativa, perspetiva, comportamento e até os nossos
sentimentos em relação a nós mesmas, enquanto mães e em relação à maternidade
em geral.
Se há uns
anos, lutávamos todos (os que éramos pais) para tornarmos o nosso dia-a-dia
mais “perfeito”, hoje em dia, parece que ninguém quer mais saber. Afinal a
maternidade é exigente, por sinal. Caímos no oposto de permitir que cada dia
seja imperfeito. E, desculpem-me os mais sensíveis, não tem que ser tão assim.
Partindo do
pressuposto que tanto a perfeição como a imperfeição não existem, escrevo estes
termos apenas como meras expressões, subjetivas, consoante o ponto de vista de
cada um.
O que procuram
vocês para o vosso dia? Procuram dar o vosso melhor? Ou aceitar que nunca será “perfeito”?
Procuram
tentar práticas que resultem melhor? Ou assumir que nunca as encontrarão?
Procuram soluções
para os desafios e imprevistos que surgem, por vezes, diariamente? Ou estão
focados no problema, sabendo de antemão que não há solução?
O facto de se
partilharam tantas experiências diferentes de maternidade pode conduzir-nos a perspetivas
diferentes daquela que é a nossa. E isso pode tornar-se meio confuso. Chegamos
a um ponto que não sabemos mais se estamos a viver de acordo com os nossos
princípios ou de acordo com os princípios das outras mães.
Eu sou o tipo de
mãe que tenta dar o melhor. Sou aquela que tenta olhar para o lado positivo e,
quando deparo um aspeto menos positivo tento encontrar a solução. Ou adaptar,
ou remediar a situação. Não sou de todo uma mãe conformista. Apesar de, por algum
tempo, ter “entrado” por esse campo. Esta experiência não é assim tão linear,
mas dei por mim a dizer para mim mesma “deixa lá, é normal. Deixa lá, é sempre
assim. Deixa lá…” Mas não foi nesse deixa lá porque a maternidade não é
perfeita, que as coisas funcionaram melhor.
E foi aí que,
em reflexão, fui percebendo que também eu estava a ficar contaminada pelo “excesso
de informação”, tanta dela descartável, assente em princípios do nada, mas que
quando partilhada com convicção e em tanta quantidade nos leva a acreditar que
isso é a verdade.
Se assim é, olhem,
eu prefiro andar enganada. E prefiro optar por uma maternidade onde irei lutar
pelo seu lado cor-de-rosa.
Cada um pinta
a sua vida da cor que quer. Isso tem a ver com o foco e atenção que dá ao que
está ao seu redor. Hoje, eu escolho dar o meu melhor. E amanhã também. E
escolho, acima de tudo, focar nas coisas boas e ignorar as restantes.
Escolho não aceitar
que todos os dias serão “normalzinhos” e se existir um “perfeito” é normal. Eu
prefiro o oposto, prefiro lutar por dias “perfeitos” e se existir um difícil é porque
é normal.
Para este ano,
decidi ser cada vez mais eu, decidi que irei ignorar um bocadinho mais que o
ano anterior o que se passa pelo mundo. Há muito ruído pelas redes sociais. Eu
não quero ser alimentada por ele. Posto isto, a intenção é falar sobre a
maternidade segundo aquilo em que acredito, o que defendo como sendo o real,
trazendo uma parte de experiência pessoal, outra parte profissional e claro,
uma parte de teoria por detrás de tudo isso. Por outras palavras, irei tentar
partilhar aquilo que eu chamo o meio-termo. É aí que tento viver. (Apesar de
saber que isso não é nada comercial.)
Não há maternidades
perfeitas. Nem há maternidades imperfeitas. A maternidade está nos pais. E na
forma como a encaramos. Como a pretendem encarar durante este ano? Focando e
aceitando os desafios? Ou alimentando dias cada vez melhores?
Podemos tudo.
Afinal de contas, a maternidade parte dos pais.
Espero que este
post faça sentido. Talvez em vídeo ficasse mais fácil transmitir a ideia. Mas a
esta hora, o outfit é o pijama, por isso, achei que ficava mal. J