Esta semana comemora-se a Semana Mundial
do Aleitamento Materno e queria trazer o assunto até vós. Apesar de, neste
momento, não amamentar (falaremos sobre isto em breve) tive a oportunidade de
amamentar durante mais de 3 anos.
Amamentar é uma experiência incrível. Os
seus benefícios começam a ser do conhecimento de todos mas as suas implicações
no dia-a-dia de uma mãe, talvez ainda não.
Amamentei porque queria, porque desejei
mais do que tudo que essa seria uma experiência pela qual deveria passar.
Queria ter e dar a oportunidade de experimentar algo que não tive oportunidade
com o Gabi.
O Gabriel foi amamentado até aos 4
meses. Na altura, introduzimos o leite adaptado e gradualmente deixei de
produzir leite para lhe dar. Não sabia nada de nada sobre o assunto. Não tinha
apoio nem conselhos para que a amamentação pudesse continuar. Encarei de forma
natural. Mas quando descobri o motivo pelo qual ficara sem leite, foi como que
um choque. Foi injusto. Foi cruel para ambos, porque eu tinha tanto leite e de
repente perdi tudo. Tinha perdido a oportunidade de nutrir o Gabi, de lhe poder
dar alimento por mais tempo e não soube de nada.
Com a Estrela comecei a ler sobre o assunto,
a pedir informações e decidi que seria diferente. E assim foi. Foi uma
experiência maravilhosa, incrível.
Apesar de guardar a experiência como
muito valiosa, não foi um mar de rosas. Houve fases espetaculares, e houve
fases bem desgastantes, durante as quais questionei se faria ou não sentido
continuar.
Na memória ficam, maioritariamente, as
coisas boas. Mas, recordo algumas dificuldades como as maiores de todas.
- Nos primeiros dias, os meus peitos ficaram
em ferida e muito sensíveis. Doíam tanto mas tanto, que eu contorcia-me e
fechava os olhos para tentar apaziguar a dor. Não memorizei a dor, mas lembro-me
disto e do quão difícil foi para o meu marido ver-me assim, a sofrer pela dor.
Mas eu sabia que seriam apenas uns dias e tudo ficaria bem. Claro que, nos
primeiros dias, amamentava em livre demanda, o que talvez chegasse a cerca de
10-12 mamadas diárias (?). Entre 10 a 12 vezes por dia eu via o céu a ficar escuro, respirava
fundo e passava. Apenas as primeiras puxadas fazem doer. Depois tudo
estabiliza.
- Nos primeiros meses, ui, os primeiros
meses. O pânico que eu tinha das pesagem. Tinha um medo tão grande que a
Estrelinha não aumentasse de peso. Tive este medo muito presente até aos 4
meses. Inconscientemente, por muito que me tentasse e me tentassem convencer de
que a Estrela estava bem, eu tinha receio de perder o leite. Com o Gabi deixei
de amamentar aos 4 meses e sabia que, chegando lá, tinha tudo para dar certo. Era
aquela meta que não tinha sido ultrapassada pela primeira vez. Apesar da
Estrela estar a engordar tão mas tão bem que, coitada, mal se via o pescoço, eu
tinha mesmo medo.
- Depois dos 4 meses, eu sabia que seria
capaz de chegar mais longe. Chegamos aos 6 meses com facilidade. Mas,
condicionadas porque entretanto adoecera. Obriguei-me a não fazer medicação e,
mais tarde, a aceitar apenas medicações que fossem compatíveis com a
amamentação.
- A última dificuldade que recordo foram
as fases de privação de sono. Aquela necessidade de me manter em vigília, de
cuidar de duas crianças, de tentar trabalhar, de tentar dar conta de tudo a que
me impunha foram, talvez, a única sensação que irei guardar para sempre.
- Mas, com muitas histórias pelo meio
(um dia destes conto tudo), chegamos aos 3 anos de maminha. A pediatra tinha
dito uma vez, em tom de brincadeira, que quem amamenta até aos 2 está preparada
porque vai amamentar até aos 3. E verdade seja dita, assim foi.
- Passei por 2 trabalhos diferentes
entre o 1 e o 3 ano de vida da Estrela. E lá nos fomos tentando organizar. À medida
que o tempo corre, vamos encontrando um jeito de tornar as coisas mais simples
para todos.
Mas, mães, se vocês também amamentaram
(ou ainda amamentam), sejamos sinceras: amamentar é maravilhoso, mas há fases
que doem. E doem mais na alma do que no próprio corpo. Talvez doam mais pelo cansaço mental e pela ansiedade que nos gera do que
propriamente pelo facto de estarmos a amamentar. Porque isso é
inexplicavelmente maravilhoso. Mas aquela dicotomia que se prende entre a
vontade gigante de continuar e ao mesmo tempo pelo medo de colapsar é terrível.
Se vocês estão a amamentar e, por vezes,
sentem-se cansadas ou exaustas; se pensam em desistir; se acham não serem
capazes, só vos posso deixar um conselho: alinhem o coração ao pensamento e
tomem a melhor decisão para ambos. Deixar de amamentar é daquelas decisões que
só se toma uma vez. Por isso, façam-no com consciência para que possam ficar
bem resolvidas com essa decisão. A maternidade é toda ela complexa. Nada melhor
do que mantermos a consciência tranquila de que fizemos o nosso melhor.
E vocês, qual foram as maiores dificuldades
que sentiram durante a amamentação? Quais as coisas que aconteceram para as
quais não estavam preparadas?