segunda-feira, fevereiro 14

Está na hora de se desmistificar o amor.

Dia dos namorados. O dia ideal para partilhar frases e histórias de amor perfeitos. O dia ideal para se espalhar amor e ao mesmo tempo, o banalizar.

Talvez seja o amor o mais poderoso sentimento do mundo. É aquele que nos faz sonhar e muitas vezes sermos capazes de mudar tudo e começar de novo, mais fortes e melhores. O amor é o motor, a chama e o combustível para tanta gente, em tantas e diferentes fases de vida. Salva pessoas do abismo, abre portas para novos começos.


Mas, será o amor assim tão romântico como se pinta? Será o amor assim tão fofinho e perfeito todos os dias?

Eu acredito que não. O amor é um sentimento que nos liga a outras pessoas. Como tal, está envolto entre tantas outras emoções. A forma como o sentimos e como interagimos com ele é medida de acordo com as nossas próprias experiências de vida e perceções sobre ele mesmo e o mundo. Assim sendo, o amor não é assim tão simples e cor-de-rosa. Mas… Antes de percebermos os limites aceitáveis para o amor é necessário desmistificar que existem diferentes formas de amar…

 

Há varias formas de descrever o amor. Para mim, há dois ou três tipos principais de amor e é sobre ele que nos vamos debruçar. É urgente desmistificar o amor! É urgente atribuir ao amor o que ao amor pertence e colocar tudo o resto no seu devido lugar.

 

Nas lojas, na televisão, nos filmes e nas redes sociais surgem inúmeras partilhas e juras de amor. É tão bonito ver como o amor nasce entre duas pessoas e as faz vibrar de forma positiva. É bonito ver que o amor as torna mais capazes, confiantes e ao mesmo tempo, as faz doar o melhor que tem ao outro. Mas, a cada uma destas caraterísticas, associadas a imagens que nos passem há uma parte (ou mais) que fica escondida. Porque é mais fácil iludir o espectador com histórias de encantar. Mas, trazemos nisso um problema para a sociedade, a de a fazer acreditar que todas as histórias de amor devem ser tal e qual os romances. Envoltos em paixão, romantismo e uma vontade louca e desmedida de estar com o outro. Mas, será o amor assim?

 

Eu diria que o amor começa dessa forma. O amor imaturo, envolto pela paixão, faz-nos perpetuar e acreditar que seremos para sempre eternos apaixonados. Que andaremos sempre de mão dada, que seremos sempre capazes de nos entregar por completo ao outro. Que seremos capazes de tudo mas que nunca nos iremos separar “até que a morte nos separe”.

 

O problema surge quando o amor evolui, a paixão desaparece e a dificuldade surge à primeira esquina. Os filhos são sim uma prova de fogo para o amor entre o casal. Trazem o desafio constante ao qual nem todos conseguem resistir. São duas pessoas diferentes, com bagagens e personalidades diferentes, que agora coabitam com novos seres, sobre os quais têm uma responsabilidade acrescida: a de lhes proporcionarem o melhor, de orientarem e ensinarem também a eles mais sobre o amor.

 

O amor maduro é o amor que fica, é o amor que se baseia na cumplicidade, na compreensão, no carinho, na dedicação, no afeto, na segurança que um dá ao outro. O amor maduro não dói como o primeiro. Não é feito de sobressaltos. É mais tranquilo. É feito de confiança, da vontade de interajuda constante, da partilha de bons e maus momentos e de um sonho comum ou do apoio ao outro perante sonhos diferentes. O amor maduro não deve doer.

 

Quando o amor dói talvez estejamos perante um caso de amor doentio, que só pelo facto de ser doentio não deveria ser chamado de amor. O amor doentio prende, aprisiona, condiciona, magoa. O amor doentio faz mais mal que bem. O amor doentio acorrenta as pessoas pelo medo, pela insegurança, pela dúvida, e por tantas outras questões que não foram resolvidas dentro de cada um e que cegam a forma de o entender como tal.

 

Hoje, no dia dos namorados, eu não tenho um discurso romântico para partilhar, nem tampouco uma história de amor verdadeiro. Acredito que o amor vence qualquer obstáculo externo, mas quando o obstáculo surge constantemente dentro da relação talvez seja amor de verdade a capacidade de deixar o outro ir.

 

Hoje e sempre, que sejamos capazes de olhar para o amor como olhamos para vida. Que sejamos capazes de lhe atribuir apenas o que lhe pertence e que sejamos capazes de deixar ir o que não deve lá estar. O amor verdadeiro não faz doer.

 

PS: Não é só a agressão física que magoa, que destrói. É importante desmistificar o amor e mostrar que a partir do momento que te faz doer é porque não deve lá estar. Se estás a passar por uma situação de desconforto, medo ou dúvida, procura ajuda profissional.