Onde está o Gabriel?
O Gabriel não aparece
em muitas fotos. (vou confessar que passa o dia em cuecas e fica difícil
publicar fotos dele assim). Mas esta semana está longe das atividades com a
irmã. Ele está em tele-escola. E este texto é sobre isso mesmo.
Não vou escrever
sobre as dificuldades de estudar em casa ou sobre a difícil arte de conciliar o
trabalho dos pais com os trabalhos-de-casa da escola. Não irei escrever também
sobre a dificuldade de estar em casa sem ir à escola e brincar com os amigos ou
sobre todas as dificuldades inerentes a todo este processo.
Vou escrever sobre a
OPORTUNIDADE e o PRIVILÉGIO de ter escola, esteja ela onde estiver. Esta semana
o Gabi regressou à escola. Foram quase 2 meses longe dela. Mas ontem retomou os
estudos, a partir de casa, em tele-escola, como milhares de crianças em
Portugal.
Confesso que mesmo
tendo lido vários desabafos, de entender os desafios desta nova realidade,
fiquei feliz. Tão feliz que precisava registar tudo isso.
O Gabriel regressou à
escola e é tão bom ter a oportunidade de estudar em casa, em segurança, longe
dos perigos (no caso COVID-19) deste mundo.
Fiquei tão feliz e
emocionada que só consegui agradecer. Agradeci pois foi inevitável pensar na
quantidade de crianças por este mundo fora que não têm sequer a oportunidade de
estudar. Pensei na quantidade de crianças por este mundo fora que não têm
acesso à educação e naquelas que estão longe de tudo o que um ecrã lhes pode
dar (ensinar, neste caso). Aliado a isso não posso deixar de pensar em todas as
crianças que nem sequer têm um lar ou uns pais para as apoiar. A quantidade de
crianças que gostaria de ser “driblada” entre as reuniões de trabalho e as
lidas domésticas dos pais é grande. Há muitas crianças que não sabem o que é
ter uns, que dariam a vida para se sentirem “confusas” no meio de todo este
processo, mas a sua maior confusão passará por perguntas mais profundas, como “porque
me abandonaram?”. Pensei ainda no privilégio que os nossos filhos têm por terem
pais e um lar onde possam estudar. Seja numa secretária, na mesa da sala, da
cozinha ou até no chão, os nossos filhos têm essa possibilidade, esta
oportunidade. Tantas e tantos nunca terão. Nem agora nem nunca. Tantas e tantas
crianças não têm a possibilidade de serem isoladas dos perigos deste mundo,
porque elas vivem onde o perigo é ainda maior.
Ontem, quando o Gabi
se sentou em frente ao computador, vieram-me as lágrimas aos olhos, pela gratidão
de crianças como ele o poderem fazer, de terem a possibilidade de reorganizar
os seus dias, de terem objetivos diários, de terem desafios, de terem esta
abertura para o mundo e de poderem crescer. Tantas e tantas crianças à deriva,
tantas e tantas pessoas sem destino. Mas os nossos filhos têm algo onde se
agarrar: têm a possibilidade de ter educação.
Obrigada vida por
esta oportunidade de aprender! Será uma aprendizagem não só em conhecimento
empírico, mas sobretudo em conhecimento humano.
Força para todos os
que estão neste processo. Nisto sim, sou capaz de dizer “vai com fé, porque vai
correr bem!” ;)
(PS: Peço desculpa por erros ou lapsos gramaticais, estes textos são escritos à primeira, sem revisão)