Dia dos namorados. O dia ideal para partilhar frases e histórias de amor perfeitos. O dia ideal para se espalhar amor e ao mesmo tempo, o banalizar.
Talvez seja o amor o mais poderoso sentimento do mundo. É aquele que nos faz sonhar e muitas vezes sermos capazes de mudar tudo e começar de novo, mais fortes e melhores. O amor é o motor, a chama e o combustível para tanta gente, em tantas e diferentes fases de vida. Salva pessoas do abismo, abre portas para novos começos.
Mas, será o amor assim tão romântico como se pinta? Será
o amor assim tão fofinho e perfeito todos os dias?
Eu acredito que não. O amor é um sentimento que nos liga
a outras pessoas. Como tal, está envolto entre tantas outras emoções. A forma
como o sentimos e como interagimos com ele é medida de acordo com as nossas
próprias experiências de vida e perceções sobre ele mesmo e o mundo. Assim
sendo, o amor não é assim tão simples e cor-de-rosa. Mas… Antes de percebermos
os limites aceitáveis para o amor é necessário desmistificar que existem
diferentes formas de amar…
Há varias formas de descrever o amor. Para mim, há dois
ou três tipos principais de amor e é sobre ele que nos vamos debruçar. É urgente
desmistificar o amor! É urgente atribuir ao amor o que ao amor pertence e colocar
tudo o resto no seu devido lugar.
Nas lojas, na televisão, nos filmes e nas redes sociais
surgem inúmeras partilhas e juras de amor. É tão bonito ver como o amor nasce
entre duas pessoas e as faz vibrar de forma positiva. É bonito ver que o amor
as torna mais capazes, confiantes e ao mesmo tempo, as faz doar o melhor que
tem ao outro. Mas, a cada uma destas caraterísticas, associadas a imagens que
nos passem há uma parte (ou mais) que fica escondida. Porque é mais fácil
iludir o espectador com histórias de encantar. Mas, trazemos nisso um problema
para a sociedade, a de a fazer acreditar que todas as histórias de amor devem
ser tal e qual os romances. Envoltos em paixão, romantismo e uma vontade louca
e desmedida de estar com o outro. Mas, será o amor assim?
Eu diria que o amor começa dessa forma. O amor imaturo,
envolto pela paixão, faz-nos perpetuar e acreditar que seremos para sempre
eternos apaixonados. Que andaremos sempre de mão dada, que seremos sempre
capazes de nos entregar por completo ao outro. Que seremos capazes de tudo mas
que nunca nos iremos separar “até que a morte nos separe”.
O problema surge quando o amor evolui, a paixão desaparece
e a dificuldade surge à primeira esquina. Os filhos são sim uma prova de fogo
para o amor entre o casal. Trazem o desafio constante ao qual nem todos
conseguem resistir. São duas pessoas diferentes, com bagagens e personalidades
diferentes, que agora coabitam com novos seres, sobre os quais têm uma
responsabilidade acrescida: a de lhes proporcionarem o melhor, de orientarem e
ensinarem também a eles mais sobre o amor.
O amor maduro é o amor que fica, é o amor que se baseia
na cumplicidade, na compreensão, no carinho, na dedicação, no afeto, na
segurança que um dá ao outro. O amor maduro não dói como o primeiro. Não é
feito de sobressaltos. É mais tranquilo. É feito de confiança, da vontade de
interajuda constante, da partilha de bons e maus momentos e de um sonho comum
ou do apoio ao outro perante sonhos diferentes. O amor maduro não deve doer.
Quando o amor dói talvez estejamos perante um caso de
amor doentio, que só pelo facto de ser doentio não deveria ser chamado de amor.
O amor doentio prende, aprisiona, condiciona, magoa. O amor doentio faz mais
mal que bem. O amor doentio acorrenta as pessoas pelo medo, pela insegurança,
pela dúvida, e por tantas outras questões que não foram resolvidas dentro de
cada um e que cegam a forma de o entender como tal.
Hoje, no dia dos namorados, eu não tenho um discurso romântico
para partilhar, nem tampouco uma história de amor verdadeiro. Acredito que o
amor vence qualquer obstáculo externo, mas quando o obstáculo surge constantemente
dentro da relação talvez seja amor de verdade a capacidade de deixar o outro
ir.
Hoje e sempre, que sejamos capazes de olhar para o amor
como olhamos para vida. Que sejamos capazes de lhe atribuir apenas o que lhe
pertence e que sejamos capazes de deixar ir o que não deve lá estar. O amor
verdadeiro não faz doer.
PS: Não é só a agressão física que magoa, que destrói. É importante
desmistificar o amor e mostrar que a partir do momento que te faz doer é porque
não deve lá estar. Se estás a passar por uma situação de desconforto, medo ou
dúvida, procura ajuda profissional.
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