Quando alguém sofre de depressão quase que se olha para a
pessoa com pena. Porque a pessoa passa a vida a chorar. Ora porque não consegue
ver nada de positivo. Ora porque está sempre a reclamar.
Sobretudo nos jovens, nos que ainda tinham toda uma vida
para viver, a depressão é considerada como uma doença "sem fundamento". Porque
até tinha tudo e mesmo assim está naquele estado. Ora porque só estuda, sabe lá
o que são preocupações. Ora porque lhe fazem as vontadinhas todas e mesmo assim
nunca está contente com nada.
A depressão pode matar! A depressão é uma doença, como
outra qualquer. E, como tal, existem causas que a podem provocar ou influenciar
o seu aparecimento.
Os adolescentes e jovens não passam pelos mesmos dilemas
que nós, adultos. Óbvio que não. Se nós, adultos, formos conscientes o
suficiente, olharemos para a nossa história como uma evolução. E foi ou não foi
dolorida em muitos momentos? Sofremos ou não sofremos por coisas que hoje em
dia nem queremos saber?
Pois é. Mas, naquela altura, eram ENORMES para nós!
Mas, não vamos nem aprofundar as várias causas possíveis
para a depressão. Hoje quero focar-me apenas numa. Na que está ao nosso
alcance. A nossa relação com o mundo e com os nossos.
Já pensaram que muitos jovens com depressão sofrem pelo
acumular de experiências negativas, grande parte delas, vividas dentro da
própria casa? Muitos são os adolescentes e jovens que travam lutas com os
próprios pais. Mas, insanamente, os pais e adultos daquela relação, não
conseguem perceber que o problema não é a reclamação do mais novo. Isso talvez
seja apenas uma chamada de atenção. O problema está neles. Na forma como se
comunicam, como se expressam, na forma como encaram a sua própria vida e na
forma como, incoerentemente, exigem que os outros a vivam. E, muitas vezes
também, na forma como encaram e aceitam a sua própria saúde mental. Como pode
alguém com falta de saúde mental criar um ser imaculado, perfeito aos olhos
dele mesmo e do outro? Haverá forma de isso acontecer?
Como pode um pai ou uma mãe esperar que o filho seja
feliz se não consegue sequer passar-lhe o mínimo de estabilidade? Logo naquela
altura, em que tudo é vivido ao rubro. Em que as certezas, ditas pela boca fora,
são muitas vezes, nada mais do que questões, apenas com uma outra entoação.
Claro que existem causas orgânicas e uma influência fora
da própria casa que pode contribuir. Claro que existem traumas que podem surgir
de fora. Mas sendo este um blog sobre maternidade não posso deixar de focar-me
naquilo que está ao nosso alcance: o nosso contexto familiar. Tudo influencia porque nada é linear: a forma como nos
aceitamos, como encaramos a vida, como encaramos as nossas dificuldades, a
forma como as exprimimos ao outro, a forma como aceitamos e acolhemos os nossos
filhos. É difícil escrever sobre isto. Porque, lá está, não há uma receita. E
todos estamos sujeitos a viver experiências como esta. Mas existe uma coisa que
está ao nosso alcance: cultivar quem somos, cultivar o que queremos doar de nós
aos nossos. E encarar as doenças mentais da mesma forma como encaramos todas as
outras: com a mesma vulnerabilidade, imprevisibilidade, cuidado e atenção. E aprender
mais e mais sobre como conseguir ser melhor a cada dia, como corrigir o que
ontem fizemos de mal. Pode não resolver, pode não mudar o rumo da história, mas
pelo menos teremos a certeza, no futuro, de que tentamos dar o nosso melhor.
Que Deus nos proteja a todos. Ou qualquer outra
identidade ou crença que transcenda o ser humano. Porque por muito grande que
seja o conhecimento humano, o que nos salva é muitas vezes, a fé.
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