O nosso foi.
Pois bem… Imaginem um regresso às aulas com todas as variáveis que já conheceis, mas com uma variável nova: ser num país diferente, com uma língua que não é a vossa. Não há nada que seja familiar, nada. Apenas o vírus, porque esse chegou mais cedo.
Por isso, não posso dizer que seja propriamente um regresso às aulas, mas antes o começo de uma nova fase.
Dadas todas as circunstâncias e exigências
relacionadas com a nossa mudança, tivemos conhecimento da escola pouco antes de
começar o ano letivo. Não houve tempo para preparação nem tivemos sequer poder
de decisão, não tivemos oportunidade para visitar a escola nem ninguém. Não
conhecemos o rosto de ninguém antes do início da mesma. Só dois ou três e-mails
trocados com os responsáveis. A lista de materiais, enviada por email, foi
adquirida na semana anterior e voilá, eis que a escola começa e lá estávamos
nós, prontos para mais uma aventura. O Gabi não fazia ideia qual escola iria
começar. Viu-a por fora uma vez, uns dias antes, porque quisemos perceber onde
ficava, afinal, a nova escola.
Poderíamos fazer drama, chorar, atirarmo-nos
para o chão e espernear, reclamar pelas regras e pela falta de cuidado no que
diz respeito à falta de medidas de segurança impostas contra o vírus. Mas não, optamos
por uma postura de descoberta e é essa a postura que queremos transmitir e
ensinar ao Gabi.
Nada surge de forma controlada. Nada.
Os planos podem ser feitos anos, meses ou dias antes. A probabilidade de correr
bem ou mal estará sempre lá.
E o vírus? Esse é a única coisa
que não mudou. Os cuidados a ter e a manter são os mesmos desde o início de
toda esta fase. O Gabi sabe todos os procedimentos de higiene, terá que os
aplicar constantemente e não apenas pontualmente, como tem sido até agora.
Estará num ambiente potencialmente contaminado e também ele, poderá ser
portador. Mas a história havia sido contada muito antes do início do ano. Ele fará
a sua parte e, mesmo que seja o único, manterá os cuidados possíveis. Ensino-o,
muitas vezes, que a única coisa que podemos fazer para viver em paz é assumir
atitudes que nos mantenham de consciência tranquila. Ele fez o que podia e
mesmo assim ficou doente? Pelo menos, não ficará a pensar que a culpa foi dele,
por descuido. Acredito que peso da responsabilidade é muito pior do que o peso
da necessidade de manter os cuidados mínimos.
O
primeiro dia…
A receção ao aluno foi um
bocadinho assustadora: muita gente, todos os rostos e cenários completamente
desconhecidos. Um cenário de fundo com um vírus algures, alojado e espalhado em
tanta gente. Mas, os cuidados mínimos. Zero distância social, meia dúzia de
máscaras e álcool com fartura. Talvez o álcool seja a solução que todos
desconhecemos. (vamos tentar rir para não chorar).
No primeiro dia de escola viemos
para casa de coração apertadinho, com uma palpitação qualquer, como se o
Gabriel nunca tivesse andado na escola antes.
De facto, nunca andou nesta
escola nem em nenhuma outra aqui. Tudo é novo. E por muito estranho que possa
parecer, no meio de um cenário de pandemia, o que mais nos preocupa neste
momento é a língua.
Como irá comunicar-se? Será capaz
de expressar as suas necessidades? Como reagirá quando não compreender o que
lhe disserem? Como irá processar a nova realidade?
O Gabriel é um menino inteligente.
Tem aprendido inglês, mas mesmo assim ainda não é independente. Como irá
correr?
Como
correu o primeiro dia?
Quando o fomos buscar, ele vinha
tranquilo. Aparentemente tranquilo. Como se estivesse a absorver tudo o que
tinha acontecido.
Partilhou as coisas boas e más,
as suas inquietações. Fez o seu balanço e as comparações, óbvias, com a escola
portuguesa.
Não teve mais apoio por ser
estrangeiro, mas lá se safou e foi com os outros para onde indicaram.
Recebeu o seu primeiro horário
escolar. Tudo novo. Um formato diferente de horário, disciplinas novas, rotinas
novas,… Há um mundo novo para descobrir e acho que também eu, ainda estou a
tentar processar toda a informação.
O
saldo da primeira semana…
Numa escala de 0 a 10, digamos
que ele avalia a primeira semana acima de 8.
Para nós, é um alívio sentir que
o primeiro impacto foi positivo.
Para já, não se podem adiantar
muitos pormenores, porque os primeiros dias contam apenas para a primeira
impressão. Mas, daqui a uns tempos faremos a devida atualização. Sei que desse
lado vocês desejam tanto quanto nós que tudo corra bem. E correrá, vamos
acreditar.
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