Pensei várias vezes se deveria escrever sobre isto.
Mas sim. Eu quero. Eu preciso. Estou cansada de guardar tudo cá dentro.
Falei muitas vezes de mim, da minha história, mas nunca a contei de forma a que a pudessem compreender.
O título diz tudo. Depois de aos 21 anos ter saído de casa, as coisas complicaram-se de tal forma que fiz um luto. O luto da minha família, dos meus pais e irmãos. Manter contacto não era viável.
No meio desse reboliço, nasceu o Gabi e isso foi transformador. Ajudou-me a curar as lacunas e as feridas causadas pela perda anterior. O Gabi tornou-se a minha família. Cresci ao mesmo tempo que ele. Superei medos, traumas, dificuldades. Ele era a minha nova razão de viver.
Desde Dezembro de 2023 que vivo o maior pesadelo, o pesadelo de o ter perdido. Eu sei e acredito que não será para sempre. Mas por enquanto sinto que o perdi. Não faz mais parte da minha vida, nem eu da dele. Não sei mais o que se passa com ele. Qualquer dia não sei mais quem é... Não posso falar sobre os motivos que causam tudo isto. Não tendo sido capaz de o provar na lei, uma vez que a lei é inexistente, não o posso falar aqui também. Será algo com o qual terei de aprender a viver e terei que tentar fazer as pazes com isso (não por opção, por falta dela). Em mais de 1 ano, vi o meu filho pouquíssimas vezes. Estive apenas 1 vez com ele a sós. Passei os dois últimos Natais sem ele, e as passagens de ano também. Sinto-me num processo de luto. Sofro todos os dias por o ter perdido. Choro a maior parte deles. E sofro também pelos motivos que causaram tudo isto. Não há como fazer o luto de um filho. É contra natura. É surreal. É surreal pensar em tudo o que aconteceu e pensar sequer que perdi o meu filho. Como pode? Quem nos conhece sabe o que isto significa. Quem não nos conhece assim tão bem, imaginem uma mãe e um filho que são próximos e que deixam, de um momento para o outro, de fazer parte da vida um do outro. É cruel! É desumano! Eu perdi-o. Mas ele nunca me perderá. Porque a qualquer momento, eu estarei sempre aqui.
Tudo isto tem-me feito pensar nas voltas que a vida dá.
Estive 16 anos sem falar com a minha mãe. Será que isto é castigo do Universo? Será que isto é lição? Seja o que for, uma coisa eu sei, este foi o limite e a chamada de atenção que eu precisava para parar de ser cobarde e para parar de me esconder.
Fiz o luto, em vida, de muita gente. Passei por muitas coisas que nunca contei a ninguém. Não quero fazer o luto por mais ninguém que é importante, nem de mim mesma. Não quero mais calar e silenciar a minha história. Todos temos uma e todos temos o direito de a partilhar, se isso for para nos ajudar ou ajudar alguém. Calar seria entrar num ciclo de luto de mim mesma. E tendo estado perto de desistir, tenho noção de que não é isso que quero para mim.
Quero, como sempre tentei, transformar a dor em algo que me ajude a melhorar quem sou, e que me ajude a ser capaz de ajudar quem precisa.
Este é um post de viragem. Este cantinho nasceu quando me tornei mãe. Não sou mais a mãe que era, nem nunca serei. Não porque deixei de acreditar no que defendia, mas porque a oportunidade para o ser não existe da mesma forma. Apesar do que mudou, não deixo de ter uma mensagem para transmitir ao mundo.
Adiei por muito tempo esta partilha. Mas como sabem, tudo para mim tem que fazer sentido. E nunca poderia continuar sem falar sobre isto.
Este cantinho continuará. Em Agosto do ano passado disse num vídeo do youtube que nada será mais igual. E não é, não será. E, mesmo com diferenças, há algo que quero manter: a verdade, a genuinidade e a positividade. Nem sempre a vida é fácil. Para todos nós. Todos passamos por desafios. A dificuldade de cada um é perspectivada segundo a nossa própria realidade, que sendo única, não pode ser comparada.
Mas podemos sempre aprender uns com os outros. Podemos sempre desafiarmo-nos a ser pessoas melhores e a viver de forma mais positiva com todas as coisas negativas que nos aconteceram ou acontecem.
Nem sempre é fácil. Às vezes dói. Mas, para a frenteé que é o caminho! Lembrem-se disso.
Escrever mantém-me viva, e por isso, nunca irei parar de o fazer!
Para vocês, quero deixar como mensagem e lembrete: Não parem de fazer aquilo que vos faz bem. Não mudem por completo por causa de nada ou alguém. Só vivemos uma vez. Façam os possíveis e impossíveis para transformarem a vossa dor numa lição. E façam o que for necessário para que consigam conviver com ela. Se não conseguirem sozinhos, por favor, procurem terapia. A vida é bonita lá fora...
(E à velha moda, escrevi, e não reli.)
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