Às vezes tenho
a sensação de que romantizam-se as famílias. Claro que nenhuma gosta de
transparecer os problemas que vivem. O que acontece dentro da família deve,
tanto quanto possível, ficar dentro dela. A não ser que algo extrapole o limite
do aceitável…
Ter uma família
é difícil. Tem dias que é extremamente difícil. Manter uma família de pé, de
forma decente e tranquila tem muito que se lhe diga. E, à medida que os filhos
crescem, e a sua opinião ganha mais volume e posição, mais difícil se torna.
São cada vez mais seres a precisarem de espaço e tempo, de valorização, aceitação
e compreensão; e, por vezes, a debater ideias cada vez mais divergentes.
A minha
experiência mostrou-me que, muito mais facilmente do que julgamos, as famílias podem
entrar em saturação. Existem ciclos que, se não forem quebrados e trabalhados
convenientemente, podem ganhar tanto peso que serão capazes de destruir a paz
familiar e, por sua vez, acabar com a família.
Aprendi que, como
pilares de uma família, devemos ajustar e reajustar constantemente todas as variáveis
que vão surgindo. A família não é algo estável, que se constrói e permanece
assim para sempre, ela está em constante mutação, tal como elementos que a
constituem. Como tal, se nos desleixarmos poderemos entrar, facilmente, em decadência.
Acredito e defendo que, enquanto pilar de uma família, devemos fazer todos os
esforços possíveis para promover a ordem, o respeito e a paz dentro dela. Defendo
que a família é importante e que é muito bom fazer parte de uma. Mas defendo,
ao mesmo tempo que, a partir do momento que na família alguém deixa de ter
espaço e lugar para existir também como ser individual, o conceito de família deve
ser repensado. Defendo que ninguém deve impor a forma como o outro quer viver. Defendo
que ninguém deve querer, de forma rígida, construir leis para os outros
elementos viverem de uma forma que só faz sentido para essa pessoa. Defendo que
a família é o local que melhor nos deve acolher e compreender. E defendo, ao
mesmo tempo, que quando tudo isso se perde, então talvez a família não exista
mais.
Criar e manter
uma família unida, saudável e feliz tem muito que se lhe diga. Tem mais do que
eu conheço até e, por isso, nem entrarei em detalhes. Nunca tive a família perfeita.
E continuo a não ter. Nem a família perfeita, nem a ideal, nem a que irradia
paz e felicidade a toda a hora. Nem tampouco sei se ela durará para sempre. Mas
uma coisa eu sei: sei que tento de tudo para que, enquanto pilar, possa
contribuir para a melhorar um bocadinho mais a cada dia. E se um dia ela
acabar, irei olhar para trás e perceber que tentei dar o melhor que soube e fui
capaz.
Que neste
final de ano as famílias possam acolherem-se mais uns aos outros, aceitarem
melhor as diferenças e apoiarem mais as “maluqueiras” uns dos outros (mesmo que
não faça sentido algum para quem está ao lado, se fizer para a outra pessoa, o sentido
virá pela presença, disponibilidade e carinho que se vive quando alguém se
sente acolhido). Que neste final de ano, deixemos de olhar tão forçadamente
para nós e passemos a escutar e admirar um bocadinho mais quem está connosco
durante todo o ano, sejam eles parceiros, filhos, netos ou até mesmo os sogros
(pois há famílias que vivem com membros da sua família alargada e se não forem
acolhidos de igual forma, poderão contribuir para a destruição dessa família
também). Que neste final de ano, cuidemos de quem cuida de nós, escutemos com
mais atenção e encontremos magia e força nesta forma de união.
Ter uma
família é bom, mas viver e ser parte de uma família feliz é muito melhor!
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