Dizem, para
assustar, algo como "Eu sei o que fizeste o Verão passado". Talvez
todos reconheçam de onde vem esta expressão, e foi mesmo do filme que eu a
retirei. Mas se querem que vos assuste um bocadinho mais, os vossos (nossos)
filhos saberão o que fizeram não apenas no Verão passado, mas em todos os
Verões…
Pois é. Agimos
(vou falar assim no plural para que não sintam isto como uma crítica, é apenas
uma constatação, baseada na minha opinião e experiência sobre a sociedade em
geral)… Explicações aparte, recomecemos:
Agimos, tantas
e tantas vezes, de forma a ostentar felicidade, paz, tranquilidade, amor, equilíbrio,
riqueza, conhecimento, experiência, e tudo quanto queiram imaginar (ou desejar)…
São tantas as coisas que podemos incluir aqui que até me faltam as palavras
para as descrever.
Criticamos,
tantas e tantas vezes, os nossos pais e avós, no fundo as gerações antes de
nós, por se limitarem a fazer e a agir em prol do que o outro ia dizer, do que
o vizinho iria pensar, do que o senhor do jardim iria comentar, do que a
senhora da mercearia iria partilhar. Mas, tenho a ligeira sensação (digam-me
por favor que estou enganada, nem que mintam, ahah), que continuamos no mesmo
registo.
Talvez por ser
Verão e o sol propiciar o aumento da energia, sinto uma busca enorme pela
partilha dos momentos mais felizes e saudáveis. Dito assim até parece estar
tudo bem. Procuremos sim viver momentos felizes, sobretudo nesta fase de Verão.
Mas, quero eu dizer que sinto uma enorme necessidade do gabarito em geral, de
se partilharem vidas e momentos como se tudo naquelas vidas fosse perfeito,
especial, sem dificuldades, e com a capacidade para se ultrapassar todos os
desafios.
Claro que, de
vez em quando, lá vem um influencer
dizer que a vida não é um mar de rosas e lá partilham todos os espinhos pelos
quais têm passado. Está na moda mostrar vulnerabilidade.
Mas sabem que
mais?
Podem enganar
quem quiserem, partilhar uma vida de sonho, mostrar apenas o lado bom, para
cativar, para serem aceites, para terem notoriedade, para encherem o ego como
se o ego fosse um balão. Podem partilhar o melhor Verão do mundo, como se vivessem
só na suavidade das pétalas da rosa. Podem pintar o vosso mundo de cor-de-rosa
e até escurecer o mundo ao redor, só para mostrarem uma certa garra, coragem,
força de vencer, tal como todos nós desejamos ser (não digam que não queriam
ser sempre assim?)
Mas, quando o
fizerem, lembrem-se: há alguém que nunca seremos capazes de enganar: os nossos filhos!
Eles, que
vivem o dia-a-dia connosco, que nos conhecem, que sabem o que é real. Podem não
ter capacidade de verbalizar, de compreender, de expressar as dúvidas que têm
sobre as incoerências que se passam entre a “vida fictícia e a vida real”. Mas,
um dia, mais cedo do que imaginam, eles serão capazes de compreender tudo o que
se está a passar, porque eles também o estão a viver.
Por isso,
durante este Verão, o próximo Outono e Inverno, e as estações que se seguirão,
antes de iludirem o mundo com uma vida que não vivem, mas desejam, foquem-se a criar
essa vida antes de mais, dentro da vossa própria casa.
Foquem-se em viver
essa vida com quem dela faz parte. Foquem-se nas memórias felizes que criam com
os vossos filhos, ao invés dos momentos felizes que tentam mostrar ao mundo.
Foquem-se nos momentos perfeitos que vivem em silêncio com os vossos, em vez de
mostrarem ao mundo que o fizeram, mesmo que omitam que durante esses momentos não
estiveram assim tão presentes.
O mundo, amanhã,
saberá o que fizeram este verão, mas os vossos filhos nunca esquecerão o que
fizeram em todos verões, e no fundo, em todas as estações do ano.
Vivam por
eles, não para mostrar ao mundo. Não queiram ser um ídolo, sejam apenas um ser
humano!
Mas claro, aproveitem muito o Verão.
PS: Apenas uma mensagem de alerta, depois de ter assistido a partes de um documentário sobre influencers, e que fez clique com tanto do que vejo por aí, aqui, na internet em geral.
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