Há 13 anos
atrás… Estaria a viver o fim da minha primeira gravidez. O fim de uma gravidez
mágica, perfeita. O fim de uma gravidez que acrescentou vida, magia, um futuro
e uma família à minha vida.
Nunca escrevi
sobre isto antes. Sempre senti arriscado demais. Mas, sabem que mais? Passados
13 anos estou cansada de esconder-me, de colocar o medo e os receios em
primeiro lugar. Se voltarmos atrás no tempo, recordaremos como tudo começou…
Era Outubro de
2008. A minha vida estava virada do avesso, estava completamente “de pernas
para o ar”. Tinha mudado de curso no ano anterior, começado uma nova relação,…
Estava numa fase nova e tinha tudo para encontrar o meu ponto de equilíbrio e
para ser feliz. Menos a felicidade. Ah, e a liberdade para a sentir. Depois de
uma longa jornada, de tentativas de formas diferentes, tinha chegado à
conclusão de que onde eu vivia isso não era possível. Precisava de fazer esse
luto. (Não vou entrar em pormenores. É delicado demais para partilhar. Prometo
que, um dia, haverei de lá chegar. Mas talvez não por aqui.)
De forma romântica,
“para procurar ser livre e feliz”, deixei a casa dos meus pais nesse ano e mês.
No mesmo dia, percebi que perdera aquela família para sempre. Imaginava
dificuldades para ultrapassar quando tomei a decisão de ir “passar uns dias
fora de casa”. Precisávamos de distância uns dos outros para repensar na vida,
na nossa relação. Sempre analisei muito todas as situações e a verdade é que
também o medo me fez agir com precaução. E ainda bem. Por segurança, por
prevenção.
Apesar de não
entrar em pormenores, vocês podem imaginar o quão desafiador o terá sido. Estaria
a viver o momento mais turbulento da minha vida e não imaginaria sequer viver
uma gravidez ao mesmo tempo. Nunca a tinha planeado, nem sequer imaginado. A
verdade é que a vida não obedece a planos, porque ela sabe mesmo o que faz.
Semanas depois
de sair de casa descobri que estava grávida. Estava grávida! Eu! Uma menina,
frágil, meio perdida, a tentar encontrar o rumo certo para a sua vida. Mas era
real! Eu estava grávida do Gabi. Iria ser mãe! Era mãe! Não houve decisão a
tomar porque não houve sequer questão a ponderar. Estava grávida do meu anjo! Sabia
que era uma dádiva! Só podia ser. Sem família, sem nada que me pertencesse
mais, decidi encarar o futuro com o apoio que me fora ofertado (o melhor apoio
do mundo no momento mais crucial).
No meio do
reboliço daquela fase, vivi a gravidez entre dois extremos: a felicidade de
quem tem um bebé a gerar-se dentro de si e de quem vive uma quantidade infinita
de problemas, que não pode controlar e com os quais precisa de lidar e
enfrentar.
Fui acusada de
tudo e mais alguma coisa. Fui insultada, perseguida. Senti-me ameaçada. Mas eu
tinha que o proteger. Eu tinha que ser forte, de ter paz para dar o melhor de
mim ao meu primeiro bebé. Nem acredito que eu, ainda menina, me tornei mãe. Se,
por um lado, não tinha mais ninguém para chamar de família, por outro tinha
TUDO o que precisava para começar a construir a minha própria família: o meu
primeiro bebé.
Durante a
gravidez não fiz mais do que acreditava ser necessário. Cuidei de mim tanto
quanto pude, da alimentação, estudei muito, bebi toda a informação. Esta parte
não foi difícil porque estava a estudar o módulo de pediatria no meu segundo
ano de terapia ocupacional. Como foi importante aprender sobre tudo aquilo.
Como foi importante viver esta experiência durante aquele momento.
Por outro
lado, chorei muito. Chorei pelo luto, pelo medo, pelas dúvidas e pelo pesadelo
que assombrava do outro lado. Chorei por tudo o que tinha perdido: lugares,
pessoas, memórias da minha infância e do meu eu passado, que nunca mais
recuperei.
Mas eu era
mãe. Não era apenas uma menina acabada de sair de casa. Era uma nova mulher,
chamada pela vida para amadurecer à força. Mas tinha que ser. Teve que ser para
que eu encontrasse um novo propósito de vida.
Tentei mudar
de vida e procurar uma liberdade que nunca tive, para viver a minha vida. Mas
nada disso aconteceu. Tive que aprender que ser livre não é só sobre fazer o
que queremos, quando queremos. É muito mais subtil. Ser livre é ter a
possibilidade de escolha, mesmo que condicionada por aquilo que te faz feliz. E
fez todo o sentido aprender aquela lição. Era isso que eu, sem saber,
procurava. E a vida deu-me, mais depressa do que alguma vez imaginara, essa lição.
A minha
primeira gravidez será sempre um marco gigante na minha história. Se todos
bebés têm um propósito, não tenho dúvidas que o propósito do Gabi foi o de dar
um propósito à minha vida.
Aproveitei a
gravidez ao máximo. Fui muito feliz. E ainda sou, de cada vez que paro para a
recordar.
Se há mães que
passam por sustos durante a gravidez, os sustos que passei foram por ruídos
externos, por tantas outras coisas, que por muito que me tivessem feito chorar,
fortaleceram-me. Porque eu ganhei dois motivos para viver.
Obrigada, Vida,
por esta oportunidade de viver!
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