Sala de partos. 12 de Janeiro de 2017.
Seria mais uma grávida à espera da hora certa
para dar à luz. As enfermeiras entravam e saíam da sala, para preparar coisas e
perceber se faltaria muito tempo para chegar a minha vez.
Não posso confirmar certos pormenores (há
coisas que a memória apagou), mas recordo-me que cheguei à sala de partos com mais
do que a dilatação suficiente para levar epidural.
As contrações começavam a ser cada vez
mais intensas e dolorosas. Mas fui combinando com a médica o melhor momento
para a administrar.
Epidural dada, permaneci imóvel à espera
que fizesse efeito. O tempo passava, as contrações aumentavam e não havia forma
da epidural “pegar”. Comecei a ficar nervosa e preocupada. Na primeira gravidez
foram necessárias 2 epidurais para fazerem o efeito necessário (a primeira só retirou
a dor em metade do corpo).
Esperei e nada. Era necessária nova
intervenção. Após conversar com a médica anestesista e de lhe explicar tudo o
que podia influenciar (uma alteração anatómica ao fundo da coluna) ela decidiu,
com a minha autorização, experimentar algo diferente: uma anestesia. E lá
experimentamos. Nada de novo. Nova tentativa: mais uma anestesia. Continuava
igual, com as dores das contrações e agora sim, mexia com dificuldade as
pernas. Tinha feito efeito mas não o efeito pretendido.
Enquanto este vai e vem de testes e
experiências para perceber o porquê da epidural não fazer o efeito desejado, as
contrações foram aumentando cada vez mais. O trabalho de parto estaria para
breve e eu só me lembro de pensar como iria aguentar. A dor era forte demais, e
talvez, o desespero, também. Afinal de contas, tanta descontração e respiração
para nada. Estava a custar muito mais do que da primeira vez. Não sei como
aguentam as mulheres que dão à luz sem epidural. É necessária realmente muita
força e preparação mental para ser capaz de aguentar sem fraquejar. É
impossível não sofrer. Não recordo as dores nem lá perto, mas recordo-me que no
momento senti que sofri. De verdade. E para isso não estava mesmo preparada. Começavam
a faltar-me as forças e até pensei que podia desmaiar. Mas queria a todo o
custo aguentar. É incrível o poder que a nossa mente tem não é? Quando nos
preparamos para algo conseguimos dar conta, mas por outro lado, quando os
planos falham, ficamos desesperados sem saber o que resultará dali.
Sem tempo para mais, porque estava quase
no máximo de dilatação, lá fui para a segunda epidural, em local diferente,
para atenuar a dor para o momento da expulsão (a fase final do parto).
E aí… Uma nova dor. A dor da tão
terrível manobra do “empurrão” na barriga. Doeu. Muito. Muito mais do que
qualquer contração. Sentir aquela agressão sobre mim e imaginar o quão
prejudicial podia ser aquele movimento para o bebé meteu-me imensa confusão. Mas,
naquele estado, prestes a dar à luz, não fez sentido reclamar. Não me recordo
ao certo se perguntei o porquê daquilo. Talvez sim. Por norma questiono tudo.
Só me recordo que a lembrança da dor física da contração passou depois do
parto, mas esta não. Esta sensação de dor perdurou por muito tempo.
A Estrelinha estava a chegar e lembro-me
das primeiras palavras da enfermeira parteira: “vai ser vaidosa, vem com um
colar”. Asfixiei novamente aí. Como assim? Com o cordão enrolado? Mas e o
perigo? Questionei como? De que forma? Como estava a bebé? E recordo-me que me
acalmaram dizendo que tinha muito espaço, estaria com a folga suficiente. E acalmei
um bocadinho, mas nunca o suficiente para conseguir recuperar.
A Estrelinha chegou e foi logo para o
meu peito. E aquele contacto pele a pele fez-me
comprovar de que tudo estava, ainda, para começar.
Foi um parto e tanto. Cheio de
histórias. De aprendizagens. Mas convenhamos, a vida não é toda ela assim?
Depois de nascer, ficamos por ali, a
apreciar a nossa menina. A nossa Estrelinha, finalmente nascera.
Nos próximos relatos irei contar-vos um
bocadinho dos primeiros dias e fazer um apelo, pela saúde das mulheres no pós parto.
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