Fantasiamos demasiado a primeira infância. E ficamos espantados quando a adolescência chega. Parece que, de repente, tudo muda!
E que, de
repente, os nossos filhos passam de queridinhos a filhos da mãe.
E que, de
repente, é como se perdessem todo o seu encanto.
Porque agora
levantam a voz. Porque agora não aceitam as nossas sugestões. Porque agora
querem quebrar regras a toda a hora. Porque agora têm muita opinião e não se
contentam com um simples não, nem com as dez mil razões que lhes damos.
Sinto que a
adolescência ainda é vista como um fardo. Que ser adolescente parece ser o
problema. Que ser adolescente justifica tudo. Porque ainda se atribuem as
culpas todas à adolescência. Ora porque são as hormonas, ora porque são os
vícios da nova geração, ora porque isto ou aquilo…
Mas… E não
seremos nós os culpados? Pelo menos de parte dos seus comportamentos?
Durante anos
tentamos dar o nosso melhor, é verdade (ou será para alguns). Aprendemos com os
erros e, obviamente, tentamos melhorar, procurando novas formas de solucionar
essas dificuldades. Mas, quantos de nós não nos tornamos pais ainda quebrados?
Como podemos esperar que um filho, que passou por tantas fases diferentes, não
sinta vontade de experimentar coisas diferentes, também? Como podemos esperar
que um filho que viu tantas coisas mudar, continue igual?
Na
adolescência começamos a perceber o que fizemos mal e bem. É mais fácil aceitar
o que fizemos bem, pois claro. O problema está em aceitar que também fizemos
mal. Porque há sempre pelo menos uma coisa na qual erramos.
Por muita
consciência que tenhamos sobre as qualidades e valores que lhes passamos, convém
dizer que ainda não sabemos (e muito provavelmente nunca ninguém saberá) a “fórmula”
para criar filhos “plenos”. Não importa se são mais calmos ou mais agitados. O
que nos importa é que sejam plenos, que irradiem paz e felicidade a todo o
momento, não é mesmo?
Na
adolescência, damos por nós a repetir algumas das frases dos nossos pais. Ora
porque “é não porque eu mando”, ora “porque ainda não tens idade” ora por
tantas outras coisas que sempre nos disseram.
Mas, onde
estará, afinal a nossa parte da responsabilidade? É assim que queremos viver a adolescência
dos nossos filhos se fizemos tanto esforço para dar o nosso melhor nas fases
anteriores?
Talvez nesta
fase a possibilidade de fazer algo de forma diferente seja mais reduzida e,
talvez seja por isso tão frustrante e difícil de aceitar.
Talvez tivéssemos
que ter “trabalhado” mais nos anos anteriores para eles e não andarmos perdidos
em tantas outras coisas, ao mesmo tempo.
Talvez
tenhamos dito mais coisas do que deveríamos em frente deles. Talvez eles tenham
participado em mais programas do que seria suposto para a sua capacidade de as
entender. Talvez lhe tenhamos passado preocupações demasiadas ou talvez tivéssemos
passado a mensagem de que quebrar regras ou chegar atrasado não tem que ser um
problema e agora eles usam isso, não como exceção à regra, mas como seu poder.
Talvez tenhamos tentado ser consistentes e talvez tenhamos sido o oposto.
Talvez, entre o casal que educa, as divergências tenham sido muitas. E isso passa
para os mais novos, e fica com eles. Tudo fica com eles, da mesma forma que as
coisas boas, as coisas bonitas.
E, é aí que eu
quero focar-me. Quero focar-me e acreditar que as coisas boas que construímos
juntos serão suficientes para manter o respeito e a compreensão, mesmo nos
momentos difíceis. E, quando tudo isso se perder, quero acreditar que em
conjunto seremos capazes de parar, refletir e mudar.
A adolescência
é agora. E por mais desafiante que seja, por vezes, é agora que temos que tomar
as rédeas dessa fase e tentar analisar, estudar e dar o nosso melhor antes que
seja tarde de mais e não haja mesmo mais nada a fazer.
Hoje tenho um
adolescente, não diferente de muitos outros. Nele consigo ver as coisas boas e
as coisas menos boas que lhe passamos. Consigo perceber onde falhei, onde
falhamos. Consigo entender porque estica “a corda” de vez em quando, porque “ignora”
o que digo outras vezes, porque “goza” ou porque “acha que tem sempre razão”. Em
tantas dessas coisas eu vejo um bocadinho do meu discurso, das minhas e nossas
atitudes, das minhas e das nossas. E, ao invés de o deixar ir, eu quero ir com
ele.
Podes crescer,
Gabi. Que eu farei de tudo para poder evoluir contigo.
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